Mineiro não se mete em discussão do trabalho quando conhece ambas as partes.

Pressente o barraco e some para não sobrar para ele. Não vai abrir voto de Minerva ou se empenhar na diplomacia.

Prefere a quietude quando há uma crise no emprego.

É sábio das encruzilhadas da vida. Deixa o tempo resolver.

Ele se isola, deixa de consultar o WhatsApp, faz de conta que viajou. É abduzido. Se havia o costume de ler e responder na hora, agora lê e esquece.

As mensagens vão se acumular na caixinha de seu telefone, mas não dá um ai ou um uai. Evita formação de torcidas. Pois guarda noção do quanto o sangue quente demora para sair das roupas.

Mineiro detesta ter que dizer o que pensa de modo forçado ou assumir uma posição controvertida entre frentes opostas.

Não lida bem com a pressão extremista de ser obrigado a escolher um lado. Permanece sempre no seu cantinho, no umbigo de sua laranja.

Já vi muito isso acontecer em ambientes corporativos. Mineiro não dá corda para as reclamações. Não coloca lenha na fogueira das vaidades. Não fica insuflando queixas e críticas.  Quando identifica alguma bronca entre seus colegas, pede licença para não se meter.

Textões dos ofendidos chegam para ele e nada de escrever um bilhetinho de retorno. Viram SPAM de repente. Não corre o risco nem de enviar um emoji que pode ser mal-interpretado.

Não se sente chamado para intervir. Raciocina que não tem o que acrescentar diante da raiva ou da mágoa. Se falasse o que pensa sobre o assunto, perderia os dois comparsas. Até porque acha que ambos não têm razão.

Conta com uma sobrenatural capacidade de não se sentir afetado pelas circunstâncias negativas. Não traz nenhum desentendimento externo para dentro das suas questões pessoais. Ele ajuda os outros se ausentando. E assim protege a si mesmo.

Não ouvirá de sua boca qualquer conclusão do incidente: que foi inveja ou que foi maldade ou que foi injustiça. Os juízos de valor estarão no freezer, junto com os pacotes de pão de queijo.

Todo mineiro torna-se padre no atrito entre amigos. Veste a batina e não expõe segredos do confessionário.

Reaparecerá inteiro quando o conflito terminar, depois de semanas off-line de cumprimentos discretos, cuidando do seu ofício e batucando o computador de cabeça baixa.

Fareja no ar o fim do mal-estar e retoma a contação de piadas. Os causos de humor significam que a paz voltou a reinar na repartição.

Ao final, dirá reservadamente para cada um dos litigantes: “que bom que tudo se resolveu da melhor forma possível”.