Mineiro é viciado em pôr-do-sol.
No WhatsApp, não preciso olhar no relógio, no fim do dia, recebo fotos e fotos, dos mais diferentes amigos, do sol descendo o horizonte do mirante de suas casas.
É o sol na montanha, o sol na copa das árvores, o sol entre os edifícios, o sol no rio, o sol no campo aberto. Uma teia de aranha que se torna subitamente visível pela resplandecência.
Não pedi nada, não falei nada, é uma beleza que transborda de cada um espontaneamente.
As mensagens surgem com uma disciplina misteriosa. Como um movimento não organizado, mas certo: há em Minas uma religião dos adoradores da luz.
São fascinados pela claridade avermelhada do crepúsculo, como que me avisando que ainda guardam esperança, que não podemos nos entregar ao pessimismo, que uma data melhor ainda virá.
Colegas dos bairros Santo Antônio, do Belvedere, do Anchieta, de Santa Tereza e de Nova Lima enviam o seu último olhar antes de escurecer. É a forma que criaram para dizer que estão bem, seguros, no isolamento. É um código Morse da saúde e da saudade.
Têm orgulho de suas paisagens, de apanhar o momento fugaz da explosão das cores.
Mais do que registros da lua cheia, há um costume de registrar os estilhaços do poente, os raios espalhados pela paisagem.
As câmeras do celular parecem interruptores para acender a noite.
Recebo os postais, maravilhado, porque nunca se cansam do teatro das nuvens, das apresentações desse balé do astro.
Penso que uma hora vão desistir e parar de me remeter as cenas de suas janelas, mas está assim desde que cheguei a Belo Horizonte.
Existe o costume incansável de parar tudo o que se está fazendo para retratar o horizonte ao entardecer, tal intervalo para meditação.
Vêm o esplendor alaranjado nas cortinas, a trombeta de vento do anjo, e se encaminham para a varanda ou para o quintal, tiram a foto, suspiram e repassam para o seu grupo de afetos.
É um método epistolar, uma comunicação sensorial de pertencimento vaidoso a um lugar, cartas visuais para demonstrar a sua localização privilegiada e o encantamento que desfrutam dos seus observatórios.
Quanto mais alto o endereço, maior o fluxo de imagens.
O olho mineiro é um telescópio natural.
Beatriz, minha esposa, talvez se encontre no meio da redação importante de um processo, mas sai do seu trabalho remoto para me avisar: viu que lindo pôr-do-sol?
Não aceita que não olhe junto, que não ofereça adesão imediata e me enlace em seus braços por aqueles minutos de exclamação e pasmo.
A solenidade é a mesma que se concederia a um eclipse ou à passagem de um cometa. Só que repetida rotineiramente nas tardes da semana.
Ela deve ter um alarme no sangue, pois não se esquece de me chamar a atenção. Não quer que eu perca o momento: o instante em que todas as rezas se encontram pelo Estado.
Mal sabe ela que sou alertado às 17h48 por mensagens infindáveis de nossos conhecidos, num panelaço pontual do céu.