Algumas histórias de amor ganham ainda mais força quando ambientadas em cenários hostis — e é exatamente isso que Companheiros de Viagem entrega. Baseada no livro de Thomas Mallon, a minissérie é ao mesmo tempo um romance intenso e um retrato da política americana, atravessando décadas de repressão, medo e mudanças sociais.
Amor clandestino em tempos de perseguição
A trama acompanha dois funcionários do governo americano que vivem uma relação secreta. O ponto de partida é o macarthismo, nos anos 1950, período marcado por perseguições a qualquer um que tivesse ligação (real ou não) com o comunismo.
Esse pânico moral também atingia comportamentos considerados “impróprios” para servidores, incluindo a homossexualidade.
É nesse contexto que conhecemos Hawk (Matt Bomer), assessor de um senador democrata, e Tim (Jonathan Bailey), secretário que trabalha para o republicano Joseph McCarthy (Chris Bauer).
O interesse entre os dois aflora rapidamente, mas o romance nasce sob o peso do medo, da necessidade de manter aparências e do risco constante de exposição.
A série captura muito bem essa tensão. O texto é preciso e as atuações mostram o desgaste emocional de viver escondido, com cada um dos protagonistas construindo uma “persona pública” muito diferente do que realmente sente.
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Entre política e emoção
Ao longo dos episódios, a história atravessa várias décadas: da perseguição da década de 50, à efervescência contracultural dos anos 60, passando pelo hedonismo disco dos anos 70 e chegando ao impacto devastador da epidemia de AIDS nos 80.
A ambientação é impecável: figurinos e direção de arte traduzem muito bem cada período, e a fotografia acompanha o estado emocional da narrativa. Enquanto em público, a relação aparece fria e cinzenta, em momentos íntimos ela ganha tons quentes e vibrantes.
Os protagonistas se complementam em contraste:
- Tim é passional, moralmente dividido e carregado por conflitos internos, muito por sua criação religiosa e conservadora.
- Hawk é calculista e habituado à vida dupla, capaz até de se casar com Lucy (Allison Williams), filha de seu chefe, para manter as aparências.
Essa dinâmica de controle e sedução torna a relação intensa e, em muitos momentos, explosiva.
Um romance tão belo quanto doloroso
Além do romance central, Companheiros de Viagem amplia seu escopo com histórias que retratam outras faces da exclusão. Marcus (Jelani Alladin), um jornalista negro que tenta crescer em um ambiente segregacionista, se envolve com Frankie (Noah J. Ricketts), uma drag queen que vive sua identidade sem medo.
Em contraste, vemos a hipocrisia dos poderosos que ditam normas sociais enquanto mantêm seus próprios segredos. Roy Cohn (Will Brill), braço direito de McCarthy, persegue os “desviantes” ao mesmo tempo em que protege a si mesmo e seus aliados no jogo político.
Esses núcleos reforçam a conexão entre o íntimo e o político, mostrando como repressão e desejo caminham juntos na história americana.
Um romance tão belo quanto doloroso
O resultado é uma minissérie emocionante, tensa e intensa, que não suaviza as durezas da realidade em que se passa. Com personagens complexos, narrativa envolvente e um olhar sensível para o impacto da repressão na vida privada, Companheiros de Viagem consegue cativar do início ao fim.
Onde assistir?
Se te interessou, Companheiros de Viagem está disponível, com seus 8 episódios, no catálogo da Paramount+.
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