Uma jornada de fuga e sobrevivência

Em A Melhor Mãe do Mundo, dirigido por Anna Muylaert (Que Horas ela Volta?, 2015), acompanhamos Gal (Shirley Cruz), uma catadora de recicláveis que logo no início denuncia a agressão do namorado e decide buscar os filhos para fugir dos abusos que sofre. 

O que poderia ser apenas um relato de dor se transforma em uma jornada intensa e profundamente humana. Para proteger as crianças, Gal apresenta a fuga como se fosse uma aventura pela cidade de São Paulo, tentando dar leveza a um cenário marcado por insegurança e violência.

Essa escolha narrativa revela não apenas a resiliência materna, mas também a tentativa de transformar medo em coragem. Gal não abaixa a cabeça: traça planos, improvisa e adapta cada dificuldade para que seus filhos sintam um pouco de alegria em meio ao caos.

Tensão cresce com confronto e julgamento social

A trajetória da protagonista, porém, está longe de ser simples. Ela enfrenta a dificuldade de lidar com os próprios sentimentos pelo agressor, os riscos constantes de falhar e o peso do julgamento social diante de sua situação.

Esses dilemas criam momentos de forte tensão, em que cada decisão pode mudar o destino da família. O terço final do longa é especialmente marcante, quando Gal confronta seu parceiro, Leandro (Seu Jorge). A cena gera indignação, lembrando como a violência doméstica muitas vezes é tratada com conivência, como se fossem casos isolados.


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Ternura e solidariedade em meio à dor

Apesar do peso dramático, o filme reserva instantes de ternura e união. São momentos que ressaltam a força de uma mãe que nunca desiste de proporcionar o melhor para os filhos e a solidariedade entre os mais vulneráveis, que se apoiam uns nos outros em meio às adversidades.

Um dos pontos recorrentes do longa é mostrar esse lado humano da cidade: mesmo quem tem pouco oferece ajuda, seja de forma prática ou apenas com acolhimento. A presença popular do Corinthians também aparece como elo de conexão entre os marginalizados.

São Paulo como cenário de resistência coletiva

Outro grande mérito da obra é o uso da fotografia, que dialoga diretamente com a direção de Anna Muylaert. O enquadramento de São Paulo amplia a dimensão da jornada de Gal, reforçando a grandiosidade de sua luta dentro de um espaço urbano imenso e hostil. A cidade deixa de ser apenas pano de fundo para se tornar parte da narrativa, mostrando tanto sua dureza quanto sua capacidade de abrigar solidariedade.

Atuações e fotografia elevam o impacto do drama

Além da intensidade da história, A Melhor Mãe do Mundo se apoia em atuações consistentes. Shirley Cruz conduz a trama com entrega, navegando por diferentes emoções, mas também encontra respaldo nas interpretações das crianças, que equilibram alívio cômico e emoção.

A combinação entre performances, direção e fotografia faz com que o drama seja ainda mais envolvente e impactante.

Onde assistir?

O longa está em cartaz nos cinemas. Definitivamente, trata-se de uma obra poderosa, que une sensibilidade, realismo e emoção. A Melhor Mãe do Mundo não é apenas um filme sobre violência doméstica, mas também uma celebração da resistência materna e da capacidade de encontrar humanidade mesmo nos piores cenários.


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