O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), se prepara para enfrentar um dos momentos mais turbulentos pelos quais passam todos os candidatos a cargos do Poder Executivo que acabam de vencer uma eleição. Depois de bater o deputado estadual Bruno Engler (PL) na disputa pelo segundo turno da eleição pelo comando da capital, Fuad mergulhará nas articulações para definição dos nomes que integrarão o governo.
Já é certo que haverá alterações na estrutura da prefeitura. Em relação aos nomes com os quais o prefeito vai governar, além da manutenção de parte da equipe atual, o prefeito vai acomodar na administração os partidos que fizeram parte da sua coligação na disputa pela reeleição.
Juntamente com o PSD, participaram da coligação o PRD, União Brasil, Solidariedade, Avante, Agir e a federação PSDB-Cidadania. Entre todos os aliados, o que poderá ter o maior número de cargos é o União Brasil, partido do vice na chapa do prefeito, o vereador Álvaro Damião. O prefeito, conforme correligionários, considera a legenda fundamental na sua vitória.
Duas "alavancas" eleitorais, importantes em todo pleito, foram providenciadas a Fuad pelo União Brasil na eleição em Belo Horizonte: tempo na televisão e recursos para campanha. Por ter uma das maiores bancadas na Câmara Federal, critério para definição do tempo da propaganda eleitoral em rádio e televisão, Fuad ficou com o segundo maior espaço no primeiro turno, com 2min34 por bloco. Engler tinha o maior tempo, 2min43.
Esse tempo acabou sendo importante para o tipo de campanha colocada em andamento por Fuad, que se concentrou em mostrar obras na cidade. A outra "alavanca" fornecida pelo União Brasil foram recursos para a campanha. O partido é o maior doador do prefeito, com R$ 7,5 milhões, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consultados nesta segunda-feira (28 de outubro). O valor representa 34,24% dos R$ 21,9 milhões arrecadados pelo prefeito.
O PSD, partido do prefeito, doou menos que o União. A legenda de Fuad, conforme os dados que constam nesta segunda-feira no TSE, repassou R$ 5 milhões, ou 22,8% do total até o momento, ao comitê do candidato. Segundo aliados do prefeito, além das "alavancas", o União foi, também, um dos primeiros partidos a defender a candidatura do prefeito.
Nesta linha, ainda na campanha, Fuad promete a criação de uma diretoria, dentro de secretaria ainda não definida, para cuidar especificamente de políticas para vilas e favelas. Essa estrutura, conforme o próprio prefeito afirmou durante a campanha, ficará sob o "guarda-chuva" de Álvaro Damião, que tem atuação junto a essas comunidades.
Participação do PT
Mesmo tendo candidato a prefeito no primeiro turno, e só aderindo à campanha de Fuad no segundo turno, o PT também deverá ter espaço na administração municipal. A legenda é cotada para assumir a Secretaria de Combate à Fome, cuja criação já estava prevista em reforma administrativa enviada para aprovação da câmara em 2023, mas que não andou.
A intenção de criar a pasta será retomada no ano que vem, segundo correligionários do prefeito, com o cargo sendo ocupado por nome a ser indicado especificamente pelo deputado federal Reginaldo Lopes. Interlocutores de Fuad dizem que o prefeito tem o parlamentar em alta conta, por ter ajudado na articulação de recursos para a prefeitura.
Presidentes de partidos afirmam que não vão pedir cargos
Os presidentes estaduais de duas das principais legendas que fizeram parte da coligação do prefeito Fuad afirmam que não vão pedir cargos na administração que se inicia em 2025. O deputado estadual Cássio Soares, presidente do PSD, diz já ter feito a maior indicação possível. "O partido indicou o prefeito e já estamos felizes com isso", declarou.
Já o presidente estadual do PSDB, deputado federal Paulo Abi-Ackel, diz que pedir cargos ao prefeito nunca esteve no radar do partido. "Temos uma relação antiga com o prefeito. Era o melhor nome para governar a cidade", frisou. Fuad ocupou cargos em duas administrações estaduais do PSDB em Minas Gerais.
No primeiro governo de Aécio Neves (2003-2006), foi secretário da Fazenda. Na segunda administração do tucano (2007-2010), foi secretário de Obras, cargo que ocupou também durante parte do governo seguinte, do à época, também tucano, Antonio Anastasia. A reportagem tentou contato também com o vereador Álvaro Damião, do União Brasil, mas não houve retorno.
Paulo Lamac deverá permanecer no governo
O entorno do prefeito Fuad Noman dá como certa a permanência no governo do Secretário Municipal de Assuntos Institucionais e Comunicação Social, Paulo Lamac. O auxiliar do prefeito, que atuava no comitê em horários fora do trabalho, foi exonerado do cargo no dia 10 de setembro para assumir o comando da campanha.
A expectativa é que o aliado retome ao cargo que ocupava na prefeitura nos próximos dias. Apesar de ser filiado à Rede, legenda que participou da coligação montada para a candidatura de Rogério Correia (PT) à prefeitura neste ano, Lamac desde o início do período eleitoral está apoiando a reeleição de Fuad, o que causou um racha do partido.
Em relação a outros dois auxiliares do prefeito que também participaram da campanha, o secretário de Governo, Anselmo Domingos, e do Meio Ambiente, Célio Moreira, ambos ex-deputados estaduais eleitos pelo PTC e PSDB, respectivamente, ainda não há definição sobre a permanência na prefeitura.
Os dois, juntamente com Lamac, passaram a ser os nomes de referência na campanha depois do afastamento de Danilo de Castro (PSDB) do comitê por problemas de saúde, no início de setembro. Castro, que foi secretário de estado de Governo de Aécio Neves, era o coordenador da campanha de Fuad.
As articulações sobre o novo governo do prefeito ainda não apontaram o espaço que as outras legendas, PRD, Solidariedade, Avante, Agir e Cidadania, poderão ter na administração que se inicia em 2025.