Os ânimos entre a base e a oposição ao governador Romeu Zema (Novo) se exaltaram durante audiência pública para discutir a federalização da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) nesta terça-feira (17 de junho). A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) sugeriu o fim da audiência depois de a presidente da Codemig, Luísa Barreto, não informar o valor, mas foi rebatida pelo ex-secretário Gustavo Valadares (Mobiliza), que classificou a sugestão como “sem sentido”. 

Para Beatriz, sem a estimativa de preço da Codemig, a audiência pública deveria ser encerrada. “As apresentações foram genéricas, explicando o que é o Programa de Pleno Pagamento da Dívida (Propag), tudo bem, mas, para o Propag, era preciso apresentar mais do que isso Está marcada uma reunião na Comissão de Administração Pública para votar a federalização e, então, ela caminhar para outra comissão. O governo não veio preparado para trazer informações a respeito”, criticou a deputada.

Beatriz afirmou que a audiência estaria deixando de ser pública para ser de convidados, ocasião em que apenas os deputados se manifestar. “As informações eram importantes para não ficar depois este debate no plenário (sobre quanto vale a Codemig). Não é assim que a gente trata patrimônio público. As informações oficiais tinham que ter sido trazidas em audiência pública. Que o governo se prepare, traga e nos envie antes, para fazer um debate com a complexidade que merece”, defendeu. 

De acordo com Valadares, não adiantaria Luísa ou o secretário da Fazenda, Luiz Claudio Gomes, projetar quanto vale a Codemig, já que caberá ao BNDES avaliar o preço. “Depois do que fizermos aqui hoje, nada mudará sobre credor e devedor. Sabe quem determinará o valor da empresa? O Tesouro Nacional, com a consultoria do BNDES, que já disse ao vice-governador (Mateus Simões) que conseguirá cumprir os prazos. O governo seria irresponsável caso viesse aqui e trouxesse um valor que não seria acatado pelo Tesouro”, rebateu o deputado. 

O ex-secretario de Governo afirmou que era o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, quem deveriam ter sido convidados para a audiência. “Eles que deveriam estar aqui. Se (o preço da Codemig) é a razão (desta audiência pública), é eles quem deveriam estar aqui”, provocou Valadares. A audiência foi feita após um requerimento assinado pelos deputados do bloco de oposição a Zema. 

Ao questionar por que Luísa e Luiz Claudio não apresentaram a avaliação de mercado feita pelo Goldman Sachs, o deputado estadual Professor Cleiton (PV) acusou o governo Zema de falta de transparência. “Está posta neste estudo a possibilidade de antecipação de renovação de contrato com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que vence em 2032? Foram colocadas as terras raras da Codemig, a infraestrutura, os imóveis etc. neste estudo?”, criticou Cleiton. 

O líder do bloco do governo Zema, Cássio Soares (PSD), rebateu Cleiton e disse que o Palácio Tiradentes tem responsabilidade desde o início das discussões para adesão ao Propag. “A forma disso acontecer está em uma lei, aprovada pelo Congresso. Ela diz o quê? Nós, deputados, vamos aprovar o que for adequado e reprovar o que não achamos, mas nós precisamos entregar, dentro de um prazo, as condições para o governo (Zema) apresentar o cardápio, que a palavra final vai ser do governo federal”, insistiu Cássio.

Após o debate, os ânimos foram contidos e a audiência seguiu. Diante dos questionamentos, Luísa justificou que, como o estudo foi feito em 2023, não iria apresentá-lo na audiência pública. “Não é responsável da minha parte chegar aqui e chutar um valor, sem dados técnicos Este valor não está fechado, mas o nosso trabalho é garantir o maior calor da companhia (para a federalização”, disse ela. O estudo da Goldman Sachs projetou um valor entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões.

A presidente da Codemig ainda argumentou que o valor do nióbio, principal ativo da companhia, muda com o tempo. “No último ano, CBMM lançou uma bateria de nióbio para ser usada em veículos passados. Os grandes saltos de recebíveis que a Codemig e o governo do Estado têm da CBMM estão vinculados a lançamentos de novos produtos”, exemplificou Luísa. Em 2024, os recebíveis foram da ordem de R$ 1,7 bilhão.