O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), pretende transformar o hipercentro da capital mineira em regional, mas já é cobrado por representantes do comércio no setor sobre os detalhes da mudança. A proposta corre na Câmara Municipal há pouco mais de um mês e, caso aprovada, tira o setor da regional Centro-Sul, apesar de poucos detalhes terem sido fornecidos sobre a mudança. Segundo comerciantes, a intenção é que soluções sejam apresentadas para o hipercentro e que a prefeitura “saia das promessas”.
Conforme avaliação do vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcos Inmecco, a PBH não tem mantido uma boa relação com os comerciantes, o que é apontado por como causador do êxodo de empresas nas últimas décadas. “A prefeitura carrega um viés hostil em relação ao empreendedor, incluindo o comércio, há mais de 30 anos. E isso, entre outras coisas, é claro, foi levando o comércio a sair do Centro de BH e procurar outras regiões para administrar seus negócios com mais facilidade e lucratividade”, apontou.
Segundo a diretora da Associação de Comerciantes do Hipercentro, Jacqueline Simão Bacha, que representa cem associados, como a Galeria do Ouvidor e o Shopping Cidade, o hipercentro segue como “o maior shopping a céu aberto da capital mineira”. Questionada sobre as demandas do hipercentro, ela apontou a necessidade de um ambiente mais limpo, reforço da segurança, melhor atendimento do transporte público e ações mais efetivas para a população em situação de rua. “A (proposta de) criação da regional nos deixou, em alguns termos, felizes. Isso se for para resolver os nossos problemas. Precisamos de um grupo dedicado a solução de problemas específicos, que traga soluções. A gente precisa que as coisas saiam do discurso das promessas, que as obras sejam concluídas. É tudo muito moroso, muito demorado”, afirmou.
A solução, conforme avaliação do urbanista Sergio Myssior, está na requalificação do hipercentro não só para o meio comercial, mas para moradias e outros usos. “Trazer novos usos para o centro, especialmente habitação, é importante para que ele tenha mais vitalidade, com pessoas utilizando intensamente as 24 horas do dia. A vitalidade do centro não é resgatada apenas com a requalificação da infraestrutura, iluminação e segurança, mas, sim, com pessoas morando e utilizando a área”, destacou. Segundo ele, ações como esta podem surgir caso o setor se torne uma regional e passe a ser atendido de forma mais específica.
Para o vice-presidente da CDL-BH, a criação da nova regional é um passo necessário para a capital mineira, mas deve ser acompanhada de cautela. "Nós vemos com bons olhos a iniciativa de criar a regional hipercentro. Poderia ser muito boa, mas há uma ressalva: esse anúncio vem num momento pós-eleição, no rastro de aumento de cargos e secretarias. Isso macula a notícia da criação da regional", afirmou.
Diretora da Associação de Comerciantes do Hipercentro, Jacqueline ainda pontuou que os comerciantes estarão atentos à intenção da PBH de criar mais uma regional. "Vamos observar a escolha do gestor, porque precisa ser alguém conhecedor da história e atualizado sobre a situação hoje da região. O que mais nos incomoda hoje é precisarmos desviar nossa atenção no dia a dia, das nossas atividades para cuidar, de maneira intensa, do que seria de responsabilidade do poder público”, relatou.
Tramitação na Câmara
A reforma administrativa de Fuad foi encaminhada à Câmara Municipal de Belo Horizonte em 30 de outubro. O texto foi analisado em três comissões de uma só vez, o que diminuiu o tempo da tramitação da proposta na Casa. Menos de uma semana depois, em 13 de outubro, o texto foi votado pelos parlamentares e aprovado em primeiro turno. A falta de detalhes em relação à transformação do hipercentro em uma nova regional e a outros pontos da reforma foi destacada em um requerimento de informação de autoria da vereadora Marcela Trópia (Novo), parte do grupo de oposição na Câmara.
Conforme relatado pela parlamentar, a reforma administrativa não traz muitos detalhes sobre a mudança do hipercentro, nem com relação à criação de novas vagas. “Eu gostei da iniciativa, mas precisamos entender o escopo de trabalho. É importante não criar uma regional só com fiscais, mas que não consegue resolver um licenciamento de eventos, cuidado com população de rua e demandas de moradores. Não pode ser só mais um cargo burocrático. Belo Horizonte nasce no hipercentro, precisamos de entender se existe um plano de fundo para recuperação desse lugar, que é uma recuperação da nossa história”, afirmou a vereadora.
Membros da base do prefeito não se pronunciaram sobre o assunto à reportagem de O TEMPO. Em plenário, no entanto, o líder de governo, Bruno Miranda (PDT), definiu a criação de uma regional como ponto “importante para dar conta das demandas do centro da cidade”. Durante o primeiro contato com a reportagem, o bloco da esquerda afirmou ainda não ter estudado a proposta. Na votação do projeto de lei, vereadores do PT e Psol fizeram somente objeções à ampliação da atuação da PBH Ativos, empresa que trata de concessões, projetos de parcerias público-privadas (PPPs) e operações financeiras de BH.
A prefeitura de Belo Horizonte foi questionada sobre a decisão de transformar o hipercentro em regional e a respeito de possíveis ações na área, mas não deu detalhes para além do processo que corre na Câmara Municipal. No documento, há somente informações sobre a criação da décima regional e a designação de um responsável pela área. Nenhuma ação ou necessidade específica do hipercentro foi informada pelo Executivo da capital mineira. A expectativa é de que o texto seja votado em segundo turno na próxima semana.