A demora na definição de uma estratégia na relação entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a Câmara Municipal tem deixado parte do PT frustrada com os rumos das articulações. Diz-se, no partido, que a falta de um convite por parte do prefeito em exercício, Álvaro Damião (União Brasil), para que a agremiação componha o secretariado tem comprometido, inclusive, a possibilidade de que o PT, que é a segunda maior bancada na Câmara, venha a ser base do governo. A sigla, que se mantém independente, apoiou o prefeito Fuad Noman (PSD) no segundo turno das eleições do ano passado e tinha expectativa de um convite para fazer parte do governo.
O fato ficou demonstrado após uma reunião do prefeito em exercício com a bancada na terça-feira (4 de janeiro). “É a quarta vez que a gente bate lá (no Executivo); (Damião) fala que a prefeitura está à disposição, e o prefeito diz querer que a gente participe, mas até hoje a resposta é nada. É inacreditável”, diz uma fonte do partido. “Sabemos que tem espaços, que tem uma reforma administrativa, e ficamos em uma posição de sempre tomar uma ‘portada’ na cara”, completa a fonte, que preferiu não ser identificada.
Por outro lado, um vereador que participou da reunião relata que o prefeito em exercício pediu novamente paciência à bancada devido ao estado de saúde de Fuad, que está internado há mais de um mês.
“O Damião tem tido uma postura correta em respeito ao Fuad, não vai decidir (sobre o secretariado) enquanto Fuad não retomar as atividades. Não vai convidar para secretaria, pediu paciência para a gente”, afirmou o vereador ao Aparte.
O parlamentar ainda disse que não depende de Damião nomear secretários e formar uma base, função que seria de Fuad. “Sem uma estratégia mais clara, não vão mandar projetos de grande relevância para a Câmara. (Sobre a construção de uma base), a prefeitura não tem nem estratégia para isso”, argumenta.
Outro item pontuado pelo vereador é que o PT tem vontade de contribuir no governo municipal, mas que depende de garantias, como participar do secretariado, para fazê-lo.
“Temos disposição de contribuir, mas não dependemos de ser base ou oposição. Topamos contribuir para o governo, mas, para se colocar como base, queremos ser governo. Queremos contribuir, mas, sem poder ter espaço, o custo político disso é muito grande”, afirmou o parlamentar.
O líder da bancada do PT na Câmara, Pedro Patrus, afirma que a reunião foi positiva e não enxerga que a bancada tenha saído frustrada da conversa com Damião. “Levamos nossas ideias e o que queríamos discutir em questão programática, de diálogo. Estávamos preocupados com destravar esse diálogo com o Executivo, e saí bem tranquilo com esse reforço do diálogo. Temos projetos e ideias para a cidade, e foi o início de uma conversa mais próxima”, defendeu.
Questionado sobre a frustração de parte do PT, Patrus disse não saber quem ficou com esse sentimento. “A bancada não saiu frustrada. Saímos com esse reforço (do diálogo) e sabemos da situação do adoecimento do prefeito (que posterga as negociações). Não está no controle de ninguém. As conversas têm muito a ver com esse cenário que a gente vive”, afirmou.
Uma fonte próxima de Álvaro Damião, entretanto, afirma que o prefeito em exercício não pode fazer nenhum convite a nenhum partido neste momento devido ao estado de saúde de Fuad.
O vice-prefeito teria se comprometido em respeitar a vontade do correligionário, que está internado desde 3 de janeiro. “O Fuad é que vinha conduzindo essas conversas e ele é que vai ter que concluí-las. E o PT sabe disso”, pontuou. A reportagem pediu um posicionamento oficial da prefeitura e aguarda retorno.