BRASÍLIA - O Centrão aderiu à pressão da oposição sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e articula a construção de um cenário favorável para aprovação da anistia. A proposta beneficia os réus da trama golpista, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O movimento é capitaneado pelos partidos de oposição, que insistem, há mais de um ano, na votação do projeto.

Agora, os principais partidos do Centrão aderiram à pressão pela anistia. União Brasil, de Antonio Rueda, e PP, de Ciro Nogueira, puxam o grupo. O Republicanos também firmou posição pela pauta. O partido do deputado Marcos Pereira (SP) apoia a anistia, interessado em garantir que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, herde o espólio político de Bolsonaro.

A articulação ganhou corpo nessa segunda-feira (1°/9) com a visita do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a Bolsonaro em prisão domiciliar. Tarcísio também assumiu a dianteira das negociações. A intenção é pôr a anistia em votação após o julgamento de Bolsonaro e os outros sete réus do núcleo crucial da trama golpista. O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgá-los nesta terça-feira (2/9).

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), admitiu a articulação. “Tem uma construção para pauta [a anistia] depois do julgamento. Existe esse movimento, essa articulação, essa pressão muito grande…”, declarou na chegada à sessão de julgamento no STF nesta terça-feira à tarde.

“Estão construindo, à luz do dia, as condições para votar depois do julgamento, com participação do governador de São Paulo e movimentações dos grandes partidos”, reconheceu. “É uma desmoralização”, completou.

Anistia

Enquanto presidente da Câmara, Arthur Lira impediu a votação da anistia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e determinou que o projeto fosse discutido em uma comissão especial. Lira agiu para interromper o andamento da proposta, e entregou a polêmica para seu herdeiro, o deputado Hugo Motta, indicado por ele para a presidência.

Hugo assumiu sem se comprometer em colocar a anistia para votação, e as cobranças começaram a recair sobre ele sempre que avançava a ação contra Bolsonaro no STF. A apresentação da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), os interrogatórios dos réus e as alegações finais do procurador Paulo Gonet Branco impulsionaram as reações da oposição.

A pressão atingiu o ápice em agosto com a obstrução física do plenário da Câmara pelos deputados de oposição. Por 34 horas, os parlamentares impediram que sessões acontecessem. Para liberar o plenário, eles exigiam que Hugo se comprometesse a pôr a anistia em votação, e ainda a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Fim do Foro.

O presidente não assumiu o compromisso, mas um acordo foi costurado por Arthur Lira com líderes do centrão e o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ).

O início do julgamento de Bolsonaro intensificou as cobranças da oposição pela anistia, e a proximidade do ano eleitoral despertou o interesse do Centrão na proposta. O momento coincide com o desembarque de União Brasil e PP do governo Lula (PT), antecipando as posições que esses partidos terão na próxima eleição presidencial.

Articulando a votação da proposta, os partidos têm até costurado possíveis nomes para atuar como relator da anistia no plenário. A intenção é que o cargo seja ocupado por um nome do Centrão, preferencialmente de União Brasil ou PP — partidos unidos em federação.