A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, acredita que são necessárias mais ações da sociedade, de uma forma geral, em resposta aos recentes ataques sofridos pela titular da pasta do Meio Ambiente, Marina Silva. Para Márcia, em casos como esses, é necessário ir além das decisões internas tomadas pelo governo federal. A ministra foi entrevistada pelo programa Café com Política, exibido nesta terça-feira (8 de julho) no canal no YouTube de O TEMPO, em que abordou também as denúncias de assédio moral contra a gestão anterior da pasta.
No final de maio, a ministra Marina Silva precisou deixar uma audiência no Senado após uma série de ofensas disparadas por senadores contra ela. Na ocasião, Marcos Rogério (PL-RO) disse que a titular da pasta de Meio Ambiente deveria “se colocar no seu lugar”. Após o ocorrido, outros ministros e parlamentares saíram em defesa de Marina Silva.
Márcia Lopes diz ter ficado “estarrecida” com a situação envolvendo a colega. Ela afirma que, dentro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há “solidariedade, empenho e iniciativas” para lidar com a situação e buscar um avanço na participação feminina. Conforme a ministra, atualmente, 45,6% dos servidores federais são mulheres, sendo que 76% dos cargos de nível de direção são ocupados por mulheres.
“Tem havido uma coerência no sentido de assegurar que as mulheres tenham espaço de direção e de decisão, para que esse processo também seja muito mais reconhecido no Brasil. Quanto mais a gente avançar nisso, mais a gente demonstra que estamos certos quando defendemos a igualdade de gênero e a igualdade de oportunidade para todas as mulheres”, diz.
Questionada se haveria a necessidade de uma defesa mais enfática e pública do governo federal em relação aos ataques contra Marina Silva, Márcia diz que “tudo o que for a mais é melhor”, entretanto, acredita que a resposta deva vir além das ações internas no Palácio do Planalto.
“Eu entendo que tudo o que vier a mais é sempre melhor, tudo o que for com mais ênfase. Mas também não pode ser uma decisão só interna; isso tem que vir também da própria sociedade brasileira, como os movimentos sociais, os conselhos, outros parlamentares e outros níveis de governo tratam dessa questão. Por isso que eu sempre digo: nós não podemos ficar concentrados só no nível federal. As mudanças necessárias ocorrerão quanto mais os municípios e os estados se organizarem”, argumenta.
Denúncias de assédio
Márcia assumiu o Ministério das Mulheres em maio deste ano, após a gestora anterior, Cida Gonçalves, ser demitida em meio a denúncias de assédio moral. Márcia destacou, o setor jurídico e de controle realizaram procedimentos internos e encaminharam à Controladoria-Geral da União (CGU) para tomada de providências.
No processo de troca de gestão da pasta, a secretária-executiva Maria Helena Guarezi deixou o Ministério das Mulheres para assumir um cargo junto à Secretaria das Relações Institucionais com a ministra Gleisi Hoffmann. A assistente social Eutália Barbosa foi a escolhida para exercer a função vaga na pasta de Márcia.
A ministra negou que a troca tenha ocorrido por conta das denúncias de assédio moral. Conforme Márcia, a escolha de Eutália para assumir a cadeira deixada por Maria Helena foi por questões de confiança e proximidade, e por ter autonomia para montar sua própria equipe.
“É um processo natural que eu pudesse escolher para estar numa segunda posição alguém que eu já conhecesse, que já tivesse convivência, que no cotidiano possamos até ter divergências, mas estar juntas. Então, eu estou muito satisfeita. A Eutália é uma pessoa muito comprometida, competente, ágil, e que vai comigo buscar os resultados para esse ministério que todo o Brasil espera em relação às mulheres”, diz Márcia.
Vagas no CNU
Na segunda edição do Concurso Público Nacional Unificado (CNU), do governo federal, as mulheres terão pelo menos metade das vagas na segunda fase, tanto nas categorias em livre concorrência, como das de cotas. Conforme a ministra Márcia Lopes, a medida representa um avanço “grande” na colocação de mulheres no serviço público, negando que possa, de certa forma, prejudicar os homens participantes do certame.
“Isso não significa cota, não significa reserva de vagas, mas significa mais uma oportunidade para que as mulheres tenham esse espaço de concorrer e de serem aprovadas ou não. Isso também não vai prejudicar de modo nenhum a classificação e a participação dos homens. Então, é mais uma ação afirmativa importante para a gente alavancar esse acesso das mulheres ao mundo do trabalho, assim como é a lei de igualdade salarial”, defende.