O que era para ser um encontro entre aliados acabou jogando luz na divisão dentro do PL mineiro e carvão em outros setores da direita. A passagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Belo Horizonte, no final de junho, incluiu uma visita ao governador em exercício e pré-candidato ao governo de Minas, Mateus Simões (Novo), um almoço com aliados e um encontro estadual do PL. Eventos que sugerem comunhão, mas que revelaram divergências com os possíveis rumos definidos por Bolsonaro.
De manhã, o encontro do ex-presidente com Simões reuniu nomes como os deputados federais Sóstenes Cavalcante, Domingos Sávio, os deputados estaduais Bruno Engler e Caporezzo, além de Vile, o “vereador do Bolsonaro” e aliado de Engler. A cena sugeria unidade, mas o que chamou atenção foi o outro lado: as ausências. Entre elas, a do deputado federal Nikolas Ferreira, que havia confirmado presença, mas não apareceu. O vereador da capital Pablo Almeida, aliado de Nikolas, também não foi. A política é feita de gestos, e os parlamentares sabem disso.
No almoço, Nikolas e Pablo estavam presentes. Mas, novamente, as ausências devem ser observadas. Desta vez, a do senador Cleitinho, que também não foi ao evento logo em seguida, onde também foi convidado. Interlocutores do parlamentar afirmaram que o senador não ficou feliz com a notícia de que Bolsonaro se encontraria com Simões na Cidade Administrativa e que a “união da direita” nas eleições de 2026 estaria na pauta.
Fontes próximas a Cleitinho também disseram, na véspera da visita de Bolsonaro a BH, que o senador poderia “perder o avião” ou “não chegar a tempo” para os compromissos com o ex-presidente na capital mineira. Dito e feito: com a ausência notada pela manhã, Cleitinho afirmou à imprensa que ainda tentaria chegar para o encontro marcado para o período da tarde. Mas não apareceu. Após a segunda ausência, interlocutores do PL atribuíram a falta à perda do voo.
Sem o senador eleito por Bolsonaro em 2022, o ex-presidente abordou sobre a disputa no ano que vem no estado. No Encontro do PL, afirmou que estava previsto até agora um candidato do partido ao Senado: “Todos estão na parada”, disse. Nesse momento, apoiadores de diferentes postulantes à vaga começaram a gritar o nome daqueles que querem ver como candidato, fazendo com que Bolsonaro precisasse interromper seu discurso para fazer um apelo: “O que eu peço a vocês? Quando esse um for escolhido, por um critério técnico, todos que estejam simpáticos a outro candidato que fechem com esse candidato”.
O apelo de Bolsonaro não é à toa: há até quem diga nos bastidores que vai sair do partido se não for o escolhido do ex-presidente. Não por acaso, o deputado Bruno Engler deu um recado direto em seu discurso: “Eu escuto muito se falar em união da direita, a direita tem que estar em unidade. No meu entender, a união se faz com lealdade, com fidelidade. A direita do Brasil tem um líder, é o presidente Bolsonaro, é ele que vai ditar os rumos que nós vamos tomar”. Foi justamente esse trecho que ele destacou em suas redes sociais.
Já Nikolas trouxe um discurso descentralizador: “a gente sabe que não depende só de um homem. Seria muito injusto colocar tudo nas costas do Bolsonaro ou de qualquer outra pessoa a solução de tudo. Eu acredito que a esperança somos nós”. Enquanto isso, fez circular na imprensa, no mesmo dia, que poderia lançar o seu pai ao Senado.
Outros políticos de direita também defenderam suas pré-candidaturas ao Senado nesse dia, como o deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos), em um post em rede social. Ele acabou sendo o mais escanteado: com um nome do PL no páreo e outro sendo apadrinhado por Mateus Simões - que já falou do secretário Marcelo Aro (PP) -, Pettersen ficou de fora da composição.
Desde então, Cleitinho, correligionário e aliado próximo de Euclydes, turbinou o discurso de que segue como pré-candidato ao governo de Minas. Ele também não participou do ato com Bolsonaro na Avenida Paulista, no dia 30 de junho. Já Simões mostrou que não acredita que só o aval do ex-presidente o valida na disputa: foi atrás de uma foto com Nikolas, que conseguiu após participar do mesmo almoço que ele em Montes Claros. Na imagem, postada pelo pré-candidato na quinta-feira, um sorria; o outro exibia um semblante mais fechado.