Repercussão

Após sargento ser baleado, políticos pressionam Pacheco por fim de 'saidinhas'

Já aprovada pela Câmara dos Deputados, uma proposta para revogar as saídas temporárias está parada desde outubro no Senado

Por Gabriel Ferreira Borges
Publicado em 07 de janeiro de 2024 | 12:29
 
 
 
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O ataque ao sargento da Polícia Militar de Minas Gerais Roger Dias da Cunha, 29 anos, na última sexta-feira (5/1), na Região Norte de Belo Horizonte, levou políticos a pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), para dar celeridade às discussões para pôr fim à saída temporária. Uma proposta para revogar o direito à “saidinha”, prevista na Lei de Execução Penal, está pronta para ser votada pela Comissão de Segurança Pública, com o parecer favorável para aprovação, desde o último mês de outubro.  

Após a Polícia Militar classificar o quadro de Dias, baleado na cabeça à queima-roupa, como irreversível, o governador Romeu Zema (Novo) lembrou que a proposta para pôr fim às saídas temporárias está parada no Congresso. “Leis ultrapassadas podem tirar a vida de mais um policial em Minas. Bandidos com histórico de violência são autorizados para ‘saidinha’, que resulta em insegurança para todos brasileiros. A mudança está parada no Congresso. Até quando?”, criticou, no sábado, Zema.   

Mais tarde, o vice-governador Mateus Simões (Novo) veio a público pedir a Pacheco que paute a proposta e evite que “mais vidas inocentes continuem sendo sacrificadas”. “Saídas temporárias de presos são um absurdo. Lugar de preso condenado é na cadeia. Não irão me convencer com argumentos românticos sobre ressocialização de ‘vítimas da sociedade’. O erro está mais uma vez evidente e o preço sendo pago por um sargento da nossa Polícia Militar”, apontou Simões.

Além de pressionar Pacheco, o vice-governador pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, em dezembro, deu indulto natalino, que reconsidere a extensão das saídas temporárias. “Prisão se cumpre na cadeia. O Partido Novo continuará apoiando a extinção desse absurdo (PL 2.253/2022, que está parado no Senado)”, emendou Simões, que ainda ironizou as saídas temporárias, que, segundo ele, foram “festivamente” anunciadas no fim do ano.  

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) questionou Pacheco e os demais senadores por que a proposta para revogar a saída temporária, já aprovada pela Câmara dos Deputados, ainda não foi pautada. “Por quê? Porque eles estavam preocupados com outros assuntos mais importantes, como a aprovação do pau de arara em romarias como manifestação cultural. Isso foi aprovado em junho de 2023”, afirmou Nikolas, que tratou como “revoltante” a postura do Senado. 

O deputado estadual Bruno Engler (PL) afirmou que, se Pacheco “tiver um pingo de vergonha na cara”, pautará o fim da saída temporária no Senado “para ontem”. “Para que mais famílias não tenham que chorar, como a família do sargento Dias, um jovem de 29 anos que tinha uma filha recém-nascida que vai crescer sem pai por causa da mania que alguns têm de passar a mão na cabeça de vagabundo”, criticou Engler, que é pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte.

A Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis) defendeu o direito às saídas temporárias. Para ela, o problema está na alta da violência, não na Lei de Execuções Penais. “É lamentável vincular a tragédia experimentada pelo corajoso sargento Dias ao juízo que concedeu benefício previsto na Lei”, ressaltou a associação, que ainda negou que o suspeito tinha falta grave anotada em seu atestado carcerário.

Pacheco. O presidente do Senado ainda não se manifestou sobre o episódio de Dias. O TEMPO procurou Pacheco, mas, até o momento, não houve retorno. Tão logo o senador se manifeste, o posicionamento será acrescentado na matéria.

Oposição a Zema questiona condições da PM

Por outro lado, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PL), que preside a Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), rebateu Zema, a quem acusa de tirar “dividendos” com a Polícia Militar apenas nas redes sociais. “A sua solidariedade é muito bem-vinda, mas o reconhecimento e a valorização profissional que nós tanto cobramos, o senhor finge que não está nos ouvindo. O senhor e os seus secretários”, criticou Rodrigues.

Assim como Rodrigues, a deputada estadual Lohanna (PV), defendeu melhores condições para a Polícia Militar. “A Polícia de Minas é a melhor do Brasil mesmo, e, a nível de estado, isso precisa ser traduzido em salário, armamento e equipamentos adequados e atenção à saúde (inclusive mental) dos servidores”, cobrou a deputada, que ainda ponderou que “há muito a melhorar na legislação do país para prevenir e evitar situações como a do sargento Dias”.

Além de criticar Zema, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG, Andréia de Jesus (PT), que afirmou que o governador estaria empurrando a responsabilidade de garantir a segurança de Minas Gerais para o Congresso, defendeu a ressocialização. “A ressocialização de presos é um desafio complexo, envolvendo diversos fatores, como acesso à educação, treinamento profissional, apoio psicológico e oportunidades de reintegração na sociedade após a liberdade”, defendeu Andréia.

De acordo com a deputada, uma das soluções para defender a violência nas periferias seria o desarmamento. “Em 2023, a Polícia Federal registrou uma queda de 82% no registro de armas para uso pessoal, resultado das medidas de segurança do Programa de Ação na Segurança, que visam prevenir acidentes e episódios de violência provocados pelo uso irresponsável de armas. Isso evita que armas compradas por civis caiam nas mãos de criminosos”, apontou Andréia.

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