Deus te cura

Benzedeiras e benzeção podem virar patrimônio imaterial dos mineiros

Proposta equipara as benzedeiras ao queijo, a viola e o artesanato do Jequitinhonha, entre outros traços da cultura de Minas

Por Hermano Chiodi
Publicado em 21 de abril de 2024 | 11:30
 
 
 
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As benzedeiras e a benzeção estão no caminho para receber o reconhecimento como bem de relevante valor imaterial, cultural e social de Minas Gerais, ao lado de símbolos da mineiridade como a produção de queijo do Serro, a viola mineira ou o artesanato do Vale do Jequitinhonha.

O Projeto de Lei (PL 2024/2024), de autoria da deputada Ione Pinheiro (União), reconhece as benzedeiras como patrimônio mineiro e tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. 

“Quebranto, cobreiro, aguamento, ventre virado são males vinculados à ação de cura das benzedeiras e dos benzedores. Suas orações ingressam em um universo simbólico de práticas curativas que fazem parte das crenças populares e penetram a memória coletiva”, justificou a parlamentar. “Tal reconhecimento cultural é fundamental para a preservação e promoção de práticas culturais que desempenham um papel crucial na identidade, diversidade e riqueza cultural de cada região”, argumenta.

Para Raimundo Eustáquio, de 62 anos, que há mais de quinze anos atua como benzedor na comunidade dos Arturos, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a iniciativa é bem vinda. “Ajuda a divulgar, a levar ao conhecimento de todos. Mas é antes de qualquer coisa, uma questão de fé. Quem chegar aqui vai ser benzido e a gente não cobra nada para isso. Para funcionar é preciso fé”, diz. 

“A benzeção faz parte do nosso jeito mineiro e divulgar ajuda na fé de cada um”, defende Raimundo Eustáquio. A prática da benzeção é, inclusive, uma das justificativas para transformar a comunidade do Quilombo dos Arturos em um patrimônio imaterial de Minas.

Para a deputada Ione Pinheiro, dar aos benzedeiros o reconhecimento de relevância cultural, não significa concordar com a eficácia do método, mas reconhecer que este tipo de fé faz parte da raiz do povo mineiro. “O poder público possui o dever de mapeamento e o registro, em terras mineiras, para a salvaguarda de benzedeiras, benzedores e o ofício de benzer”, argumenta na justificativa do projeto.

“Além das orações repassadas, os benzedores carregam consigo devoções e religiosidades que se manifestam a partir das vivências e visões de mundo desses sujeitos”, diz o texto da proposta.

Pelo Projeto de Lei (2024/2024), “a declaração de que trata esta lei tem por objetivo acolher a importância cultural e fortalecer o modo de vida, o trabalho e a tradicionalidade do ofício das Benzedeiras e Benzedeiros”.

“Cabe ao Poder Executivo a adoção das medidas cabíveis para o registro do bem cultural de que trata esta lei, bem como proceder à inserção como patrimônio histórico-cultural imaterial do Estado de Minas Gerais”, determina a norma.

Cultura e economia

A mistura entre fé e cultura tem se mostrado um bom negócio para os mineiros. Cerca de meio milhão de pessoas viajaram por Minas Gerais apenas no período da Semana Santa, último grande feriado religioso do ano. O número foi 20% acima do estimado pelo Observatório do Turismo do Estado. Quase metade das cidades registrou aumento na movimentação em relação a 2023, com uma alta de pelo menos 50%. 

São João Del Rey e Ouro Preto são os principais destinos e só nesta última cidade, o movimento de turismo religioso trouxe aproximadamente R$ 15 milhões para a economia local. 

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