O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou irregularidades em seu governo nas negociações para a compra da vacina indiana Covaxin. Em sua defesa, porém, ele misturou informações de duas denúncias: uma relacionada ao imunizante produzido pela Bharat Biotech, e outra relacionada a uma negociação com a empresa norte-americana Davati para a compra de imunizantes da AstraZeneca. Bolsonaro ainda criticou o presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AL), e o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), acusando-os de envolvimento com atos de corrupção.

"A dose da Covaxin seria superfaturada em 1.000%. É isso que vocês ouviram? 1.000%. Vamos arredondar os números: 1.000%, dez vezes mais. Então, a dose custava US$ 15, por tabela, seria US$ 150 a dose da vacina. Vezes R$ 5 (cotação do dólar), arrendondando, daria US$ 750 por vacina, para eu poder ganhar US$ 1, é isso? Isso, segundo o cabo negociador lá junto.... Então, R$ 750, vezes 400 milhões (de doses), dá R$ 300 bilhões. Eu assinei uma medida provisória no ano passado para comprar vacina no ano todo: R$ 20 bilhões. Agora teria que assinar uma de R$ 300 bilhões.. Não tem cabimento. Não tem cabimento", disse Bolsonaro.

Na afirmação, porém, Bolsonaro junta um suposto superfaturamento nas doses da Covaxin (que na tese da CPI já estaria incluído nos US$ 15 firmados em contrato, não elevando o valor a US$ 150) e a denúncia de pedido de propina de US$ 1 por dose, que foi feita por Luiz Paulo Dominguetti, que dizia representar a Davati, empresa norte-americana que vendia outra vacina, da AstraZeneca. No primeiro caso, da Covaxin, o negócio girava em torno de 20 milhões de doses e o contrato chegou a ser assinado e foi suspenso após o servidor Luiz Ricardo Miranda, e seu irmão, o deputado federal Luiz Miranda, apontarem pressões e irregularidades na negociação. No segundo, o oferecimento era de 400 milhões de doses (que a AstraZeneca não autorizou), em negociação que não avançou.

Bolsonaro também disse que seria impossível praticar esse esquema, considerando os filtros internos no governo e fora dele. Nesse momento, aproveitou para disparar contra os membros da CPI.

"Quando você pega os filtros lá do ministério, tem três, quatro filtros dentro do ministério. O cara que importa, o cara que paga etc. Tem um filtro meu, que falei: 'Só compra com a Anvisa'. Vocês estão cansados de ver eu falar isso aí. E daí quando faço a compra com a Anvisa. tá certo, a Covaxin não tinha passado pela Anvisa. E tem mais: depois tem a CGU. Por qual motivo não tem corrupção no governo? Porque a Controladoria Geral da União, que tem um ministro na frente dela, faz um pente-fino na maioria dos contratos. E depois ainda tem o Tribunal de Contas da União. Como é que você vai fazer uma sacanagem dessa? Só na cabeça de um cara que desvia no seu estado 260 milhões, como Omar Aziz desviou, é que pode falar isso aí. Só um cara que tem 17 inquéritos de corrupção e lavagem de dinheiro no Supremo, como Renan Calheiros, faz", afirmou Bolsonaro.