BRASÍLIA - O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu nesta quarta-feira (15), por 13 votos a 5, arquivar uma representação que pedia a cassação do mandato do deputado Delegado da Cunha (PP-SP). Ele é acusado de agredir a ex-mulher, ainda em 2023. O processo disciplinar foi movido pelo PSOL.
A maioria do colegiado seguiu o entendimento do relator, deputado Albuquerque (Republicanos-RR). Segundo ele, ainda não foi concluído o processo na justiça e, por isso, antes de dar andamento ao tema seria necessário uma decisão das autoridades policiais e judiciais.
"Nós não podemos apurar neste momento. Quem vai investigar é a polícia. Quem vai decidir é a Justiça", afirmou. O relator, então, optou por recomendar a aplicação de censura verbal ao deputado. Essa é a penalidade mais branda prevista no Código de Ética da Casa e deve ser lida em plenário pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O caso veio à tona após o programa Fantástico, da TV Globo, exibir em março deste ano um vídeo em que Da Cunha profere insultos e ameaças contra a mulher. Delegado da Polícia Civil paulista e com 46 anos, ele é réu por agredir Betina Grusiecki, no ano passado. Eleito por São Paulo com mais de 180 mil votos, ficou conhecido na internet compartilhando vídeos de operações policiais.
A representação do PSOL afirma que Da Cunha deve perder o mandato por quebra de decoro parlamentar e cometeu “uma violência de gênero gravíssima, violências domésticas, agredindo fisicamente a sua própria companheira”. Presente na sessão, o parlamentar pediu desculpas à família pela repercussão do caso.
“Em primeiro lugar, eu queria aqui publicamente me desculpar não admitindo o erro, não admitindo o fato, mas sim por toda essa repercussão negativa e, mais uma vez, expressar o meu respeito a todas as mulheres do Brasil, inclusive a minha ex-companheira que ambos estamos sendo punidos por todo esse desgaste público”, disse.
Relembre o caso
A agressão que colocou fim no relacionamento de Betina e Da Cunha, iniciado em 2020, teria acontecido no apartamento em que o casal morava, em Santos, no litoral paulista – eles não tiveram filhos. Em 13 de outubro do ano passado, uma sexta-feira, eles começaram a discutir. Nesse dia, Betina disse que foi agredida verbalmente pelo parlamentar.
No sábado, 14 de outubro, era aniversário de Carlos Alberto da Cunha. Ele passou o dia fora com os filhos dele – de outro relacionamento. Segundo Betina, o então companheiro voltou para casa alcoolizado. O vídeo exibido pelo Fantástico é justamente dessa gravação feita por Betina, que contou ter sido agredida por Da Cunha nos três anos em que estiveram juntos.
É possível ouvir o deputado insultando a então companheira e dizendo que iria matá-la. Em alguns momentos, dá para ver o rosto de Betina, mas a maior parte do vídeo só tem áudio.
– Da Cunha: “Vai correndo para casa da mamãezinha”
– Betina: “Não. Não vou para casa da mamãe”.
[…]
– Da Cunha: “Pode parar. Pode parar, senão vou te matar aqui”.
– Betina: “Vai me matar?”
– Da Cunha: Matar.
– Betina: “Ah, então mata”.
Após esse momento, é possível ouvir a respiração ofegante dela. Logo depois, ele xinga a ex-companheira e ameaça atirar contra ela. “[…] Sua vaca, vou encher sua cara de tiro”, diz o político.
Betina grita: “Me solta. Chama a polícia. Chama a polícia! Sai”.
Betina conta que chamou os filhos. No vídeo, o rosto do parlamentar aparece de relance. Ele mexe na mochila em que está o celular. À Justiça disse que tentou impedir que Betina colocasse a maquiagem na mala. E negou os outros golpes, mas o IML atestou que Betina tinha escoriações no couro cabeludo e lesões corporais leves.
Da Cunha registrou boletim de ocorrência afirmando que era ele o agredido, por causa do ferimento com um secador. O Ministério Público concluiu que Betina tinha agido em legítima defesa. À Justiça ele tentou dar razões psicológicas e, também, espirituais para o que aconteceu.
Depois da agressão, Betina foi para a casa do pai. O parlamentar colocou roupas danificadas em um saco de lixo e mandou para a ex-mulher. Ele disse que também enviou R$ 5 mil a ela. A mãe de Betina contou que o deputado ligava para ela a fim de propor um acordo. A Justiça concedeu medidas protetivas a Betina e aos pais dela e determinou que o parlamentar entregasse suas armas.
Desde outubro de 2023, Da Cunha é réu na Justiça de São Paulo. Ele é investigado por violência doméstica. Na denúncia que foi acolhida pela 2ª Vara Criminal de Santos, o Ministério Público de SP diz que o deputado ameaçou, agrediu e causou danos materiais à ex-mulher.