O PSOL protocolou, no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, uma representação em que pede a cassação do mandato do deputado Delegado da Cunha (PP-SP), após a divulgação de um vídeo em que ele profere insultos e ameaças contra a mulher.

As imagens foram exibidas na no domingo (17) pelo Fantástico, da TV Globo. Delegado da Polícia Civil paulista e com 46 anos, Da Cunha é réu por agredir Betina Grusiecki, no ano passado. Eleito por São Paulo com mais de 180 mil votos, ele ficou conhecido na internet compartilhando vídeos de operações policiais.

A representação afirma que Da Cunha deve perder o mandato por quebra de decoro parlamentar e cometeu “uma violência de gênero gravíssima, violências domésticas, agredindo fisicamente a sua própria companheira”.

“As atitudes do deputado são gravíssimas. Constituem, para além das violações de direito no âmbito das violências domésticas contra a mulher – são manifestações de verdadeiro desprezo à mulher e legitimam a violência histórica e cotidiana que atenta contra a vida, a dignidade e a integridade física e psicológica das mulheres em todo o Brasil –, também configuram grave violação aos deveres fundamentais de um deputado”, diz o pedido.

O processo passará primeiro pelo crivo do presidente do Conselho de Ética, o deputado Leur Lomanto Júnior (União-BA), que decide se dá ou não prosseguimento ao caso. Em caso positivo, é designado um relator para proferir um parecer inicial.

O caso

A agressão que colocou fim no relacionamento de Betina e Da Cunha, iniciado em 2020, aconteceu no apartamento em que o casal morava, em Santos, no litoral paulista – eles não tiveram filhos. Em 13 de outubro do ano passado, uma sexta-feira, eles começaram a discutir. Nesse dia, Betina disse que foi agredida verbalmente pelo parlamentar.

No sábado, 14 de outubro, era aniversário de Carlos Alberto da Cunha. Ele passou o dia fora com os filhos dele – de outro relacionamento. Segundo Betina, o então companheiro voltou para casa alcoolizado. O vídeo exibido neste domingo (17) é justamente dessa gravação feita por Betina, que contou ter sido agredida por Da Cunha nos três anos em que estiveram juntos.

É possível ouvir o deputado insultando a então companheira e dizendo que iria matá-la. Em alguns momentos, dá para ver o rosto de Betina, mas a maior parte do vídeo só tem áudio.

– Da Cunha: “Vai correndo para casa da mamãezinha”

– Betina: “Não. Não vou para casa da mamãe”.

[…]

– Da Cunha: “Pode parar. Pode parar, senão vou te matar aqui”.

– Betina: “Vai me matar?”

– Da Cunha: Matar.

– Betina: “Ah, então mata”.

Após esse momento, é possível ouvir a respiração ofegante dela. Logo depois, ele xinga a ex-companheira e ameaça atirar contra ela. “[…] Sua vaca, vou encher sua cara de tiro”, diz o político.

Betina grita: “Me solta. Chama a polícia. Chama a polícia! Sai”.

Betina conta que chamou os filhos. No vídeo, o rosto do parlamentar aparece de relance. Ele mexe na mochila em que está o celular. À Justiça disse que tentou impedir que Betina colocasse a maquiagem na mala. E negou os outros golpes, mas o IML atestou que Betina tinha escoriações no couro cabeludo e lesões corporais leves.

Da Cunha registrou boletim de ocorrência afirmando que era ele o agredido, por causa do ferimento com um secador. O Ministério Público concluiu que Betina tinha agido em legítima defesa. À Justiça ele tentou dar razões psicológicas e, também, espirituais para o que aconteceu.

Depois da agressão, Betina foi para a casa do pai. O parlamentar colocou roupas danificadas em um saco de lixo e mandou para a ex-mulher. Ele disse que também enviou R$ 5 mil a ela. A mãe de Betina contou que o deputado ligava para ela a fim de propor um acordo. A Justiça concedeu medidas protetivas a Betina e aos pais dela e determinou que o parlamentar entregasse suas armas.