BRASÍLIA - Alegando dificuldades financeiras em função de decisões judiciais, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) teria escolhido 'se mudar' para o plenário do Senado. Imagens publicadas pelo deputado federal Capitão Alden (PL-BA) na manhã desta quarta-feira (4) mostra o parlamentar com uma mala no meio das bancadas do plenário. Havia no espaço, ainda, uma sacola plástica e uma pasta com itens do senador.
O político já havia indicado, na noite de terça-feira (3), que passaria a “morar” nos espaços do Congresso Nacional. A declaração foi dada após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, decidir desbloquear 30% do salário de Marcos do Val após pedido da defesa - equivalente a R$ 13,2 mil da remuneração bruta de R$ 44 mil.
Durante a sessão plenária, o senador usou a tribuna para dizer que estava sem salário e enfrentava dificuldades para se alimentar. Ele afirmou ainda que precisava pedir ajuda à sua assessoria para dividir “o que eles têm”. “(...) porque eu não vou pegar dinheiro, senão vão achar que é rachadinha e não sou louco de fazer isso”.
“Estou vindo aqui com minhas roupas e vou ter que morar no Senado. Não no meu gabinete, porque lá é um local de trabalho; eu vou achar algum corredor e vou morar aqui, vou deitar e vou dormir até quando perceber que isso foi um pesadelo, que isso não era real. [...] Ficarei aqui no Congresso, porque eu não tenho outro lugar para ficar”, continuou.
Apesar da reação, uma fonte que convive com o senador no Congresso Nacional informou que ele permaneceu no plenário até 23h de terça-feira, e teria ido, depois, para um hotel em Brasília.
De acordo com dados públicos de transparência do Senado, Marcos do Val fez uso de imóvel funcional entre janeiro e agosto deste ano. Trata-se de apartamento disponibilizado para uso de parlamentares, já equipado e sem custos adicionais fixos, como aluguel, por exemplo. Ao O TEMPO Brasília, o senador informou que continua com acesso ao local neste mês de setembro, mas precisa pagar outros custos variáveis de moradia e que o imóvel está, inclusive, com a energia elétrica desligada.
Histórico
Marcos do Val é investigado no inquérito sobre os atos de 8 de janeiro, que terminaram na destruição das sedes dos Três Poderes, em Brasília, e por ataques a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e investigadores da Polícia Federal (PF).
Em 13 de agosto, o senador anunciou que houve uma determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes de bloqueio de até R$ 50 milhões em suas contas. A decisão foi uma medida cautelar para que decisões judiciais fossem cumpridas, assim como o pagamento de multas pelo descumprimento de ordens da Suprema Corte.
Na época do bloqueio, do Val acusou haver “abuso de autoridade” e classificou a medida como uma decisão inconstitucional. Nesta semana, Moraes desbloqueou 30% do salário dele (o equivalente a R$ 13,2 mil do total bruto de R$ 44 mil) como um montante necessário para a sobrevivência do senador.
"Não há necessidade de manutenção total da restrição, para permitir que o investigado possa dispor de valores decorrentes de seus vencimentos necessários para sua efetiva subsistência", escreveu o ministro na decisão.
Senador diz que decisão de Moraes resultou até mesmo em divórcio
Ainda na sessão de terça-feira, do Val acusou que a situação motivou seu divórcio. "A minha família ficou muito abalada e culminou em divórcio há dois meses. A minha atual esposa, com a qual eu me casei já como senador, não aguentava nem eu assistir a filmes de polícia, porque, quando ela ouvia gritando ‘polícia’, ela entrava em desespero. E eu até brincava: 'Esposa, isso para nós foi um ISO 9001 Xandão'”, contou.
A referência foi ao ministro Alexandre de Moraes. “Ele está há um ano e meio tentando achar alguma coisa contra mim; não achou e não vai achar", completou.
Parlamentar afirma que não teve verba desbloqueada
Também na noite de terça-feira, do Val teria publicado no X - antigo Twitter, que está com acesso bloqueado no Brasil por decisão de Moraes confirmada pela Primeira Turma do STF - seu extrato bancário. A imagem mostra um saldo zerado disponível e um débito de R$ 49,9 milhões agendado para até 9 de setembro, em sinalização ao bloqueio de contas.
O extrato foi acompanhado de uma mensagem em que do Val informou que o desbloqueio de 30% de seu salário “não é verdade”.
“Na realidade, 70% do meu salário continua bloqueado, assim como 70% da verba de gabinete destinada ao exercício do meu mandato. Os 30% que supostamente voltariam a ser pagos referem-se exclusivamente à restituição das despesas dos meus gabinetes, tanto em Brasília quanto no meu gabinete regional no Espírito Santo".
Ainda segundo ele, esses recursos são para manter o funcionamento dos gabinetes, e não têm relação com a remuneração. O senador acrescentou que, em função da multa de R$ 50 milhões, qualquer valor que entrar na conta bancária dele será automaticamente debitada para pagar o que ele chama de "ilegalidade e abuso de poder".
"Também estou com o passaporte cancelado, sem saber o motivo e ainda sendo membro da comissão de Defesa e Relações Internacionais. A verdade é que estou sem o meu mandato devido às ações do ministro Alexandre de Moraes, simplesmente por estar defendendo a nossa Constituição”, continuou.
Do Val ainda se referiu a Moraes como “ditador” e completou: “Saibam que estou desafiando os 11 ministros do STF e todos os seus assessores a sentarem comigo e me convencerem de que existe alguma lei em nossa Constituição que impede a liberdade de expressão e autoriza censura prévia”.