BRASÍLIA – Uma resolução do diretório nacional do PSOL impede filiados do partido de ocupar cargos nos ministérios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A regra é uma das orientações da legenda sobre a relação que a sigla mantém com o governo Lula e inviabilizaria que o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) fosse para a Secretaria-Geral da Presidência, hoje ocupada pelo ministro Márcio Macêdo.

Candidato à Prefeitura de São Paulo com apoio histórico do PT, Boulos é líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e é cogitado para o cargo com status de ministério, segundo antecipou a Folha de S. Paulo nessa terça-feira (4).

O item 10 da resolução nacional é explícito ao proibir que filiados integrem o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios, mas permite, como única exceção, a presença da deputada Sônia Guajajara (PSOL-SP) – alçada ao Ministério dos Povos indígenas.

 "O PSOL apoiará o governo Lula em todas as suas ações de recuperação dos direitos sociais e de interesses populares (...), mas o Psol não terá cargos na gestão que se inicia", prevê. "Ainda assim, compreendemos que a indicação de Sônia Guajajara, como liderança do movimento indígena, para o Ministério dos Povos Originários é uma conquista de extrema importância", avalia o documento.

O ponto seguinte dispõe que, para aderir à gestão Lula, filiados deverão se afastar dos espaços de direção partidária. "A eventual presença nesses espaços [funções no governo] não representa participação do PSOL", completa.

Governistas se dividem, e nome de Boulos é controverso até entre aliados no Congresso

A possibilidade de Guilherme Boulos migrar da Câmara dos Deputados para o Palácio do Planalto não é unânime entre governistas no Congresso Nacional. Políticos racharam entre apoiar ou não o nome da liderança do MTST para a Secretaria-Geral, cargo que dialoga diretamente com os movimentos sociais – forte reduto eleitoral de Lula.

Um aliado do Planalto avalia que uma eventual opção do petista por Boulos implicaria no "fim" do governo. Ainda no campo dos críticos à possibilidade, um parlamentar da base avalia que a ida do psolista para a Secretaria-Geral colocaria em risco a independência política da sigla e poderia, ainda, implicar na "perda do potencial de liderança que Boulos representa para o movimento social".

Outro nome analisa, ainda, que destinar o cargo para o PSOL não contribuiria para reforçar o núcleo dos governistas no Congresso. "O PSOL já tem posição firmada. Ter mais um cargo não faria diferença no apoio da bancada", ponderou.

Há, contudo, nomes que apoiam Guilherme Boulos na "cozinha" do Palácio do Planalto. O deputado é visto por defensores como um político habilidoso e com bom diálogo no Congresso Nacional. "Governo Lula é uma frente ampla, então não tem porque questionar o espaço da esquerda no governo. PSOL é esquerda, esteve com Lula e tem um lugar legítimo", avaliou um deputado.