BRASÍLIA – O deputado distrital Daniel Donizet (MDB) se recusou a fazer o teste do bafômetro ao ser parado por policiais militares, na noite de quinta-feira (26), no Riacho Fundo I, região administrativa do Distrito Federal. Ele deu carteirada, mas acabou autuado.

Donizet, que tem 43 anos e está em seu segundo mandato consecutivo,  trabalhou como professor de tecnologia da informação, foi motorista de aplicativos e ficou conhecido por meio de um canal no Youtube, abordando temas como informática, marketing e empreendedorismo.

Em 2010, Donizet concorreu pela primeira vez a uma vaga na Câmara dos Deputados. Filiado ao Partido da República (PR), com 357 votos, correspondentes a 0,03% dos votos válidos, não foi eleito.

Em 2018, candidatou-se a deputado distrital pelo Partido Republicano Progressista (PRP). Com 9.128 votos (0,65% dos válidos), elegeu-se por média.

Em janeiro de 2019, Donizet foi empossado para a oitava legislatura do parlamento distrital. Em abril daquele ano, filiou-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

Em maio de 2019, Donizet foi designado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) para o cargo de administrador regional do Gama, uma das “cidades-satélites” do DF, onde o deputado nasceu e tem sua base eleitoral.

De volta à Câmara Legislativa, em 2020, Donizet migrou do PSDB para o Partido Liberal (PL). Concorreu às eleições de 2022 sendo eleito novamente, com 33.573 votos. 

Em 2023, pediu uma autorização de desfiliação do  PL. Era alvo de um processo na comissão de ética do diretório regional da sigla, após pedidos de investigação de filiados, em decorrência de denúncias de supostos crimes sexuais por parte dele, se filiando ao MDB posteriormente.

Suspeita de embriaguez ao volante

Na última quinta-feira, motoristas e motociclistas acionaram a PM porque uma Nissan Frontier fazia movimentos perigosos em uma estrada distrital. Houve relatos de suspeitas de embriaguez ao volante. A caminhonete era dirigida por Daniel Donizet, que foi parado por uma viatura da PM.

Em nota, a PMDF informou que a abordagem ocorreu por volta das 20h e foi feita por uma equipe do Batalhão de Policiamento Rodoviário. Durante a revista, nada de ilícito foi encontrado, mas Donizet se negou a fazer o teste de alcoolemia. Ele foi autuado pela recusa.

Ainda segundo a PM, um familiar habilitado compareceu ao local e fez o teste do bafômetro. Com o resultado negativo, ele retirou o veículo. Mas PMs relataram que o deputado tentou usar o cargo para evitar a autuação, inclusive ligando para outras autoridades. 

O site Metrópoles publicou trechos da ocorrência policial. Nela há o registro que os PMs encontraram uma garrafa de cerveja dentro da caminhonete. Daniel Donizet disse que “realmente havia bebido mais cedo, mas que agora estava em totais condições de dirigir”.

O parlamentar aceitou fazer o teste do bafômetro, mas a viatura não tinha o equipamento, por isso os PMs pediram o apoio de outra equipe. A partir daí, segundo os policiais, “por diversas vezes, ele tentou fazer com que a equipe o liberasse para seguir viagem”, “dizia que era amigo da polícia e tinha um irmão que era policial militar”.

Sem sucesso, Donizet começou a fazer ligações e, “a todo tempo, falava que iria ligar para o secretário de Segurança Pública, para o governador e para o deputado Hermeto”. Os policiais disseram que o parlamentar também perguntou o nome de cada PM da guarnição e anotou no celular, “como tentativa de intimidação”.

Em seguida, chegou o equipamento para o teste do bafômetro, mas o deputado se recusou a fazê-lo. Os PMs informaram que ele seria autuado, conforme dispõe o artigo 165-A do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), e que deveria entrar em contato com pessoa habilitada para que o carro fosse retirado do local.

Daniel Donizet, então, ligou para o deputado distrital Hermeto (MDB), colega de partido e de bancada, que é subtenente da reserva da PMDF. Ele passou o telefone para um subtenente que estava na ocorrência.

Segundo o registro feito pelos PMs, Hermeto afirmou que “não iria se intrometer nesse assunto e que todos os procedimentos legais deveriam ser tomados normalmente”.

O parlamentar foi autuado com base no artigo 165-A do CTB, que trata da recusa do motorista ao teste do bafômetro ou outro que possa identificar embriaguez. A infração é gravíssima e prevê multa de R$ 2.934,70 e suspensão do direito de dirigir por 12 meses.

Ao Metrópoles, o deputado distrital Hermeto confirmou que recebeu a ligação de Daniel Donizet e disse ao subtenente responsável pela abordagem para “cumprir a lei”. “A lei é para todos, principalmente para nós que somos deputados”, declarou.

O governador Ibaneis Rocha convocou uma reunião emergencial para expulsar o Daniel Donizet do MDB, após o parlamentar tentar dar carteirada ao ser parado pela PM. A reunião deve ocorrer na próxima segunda-feira (30).

A reportagem procurou a assessoria de Daniel Donizet para comentar o caso, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Denúncia de assédio sexual

Em abril, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apresentou denúncia contra Daniel Donizet por assédio sexual. O crime envolveria assessoras que trabalhavam na Administração Regional do Gama. O caso está sob segredo de Justiça

Em 2023, a policiais civis da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central de Brasília) instaurou um inquérito para apurar uma denúncia de violência sexual que envolvia Donizet. O distrital ocupou o cargo de administrador do Gama em 2019.

A defesa do parlamentar alegou que a denúncia apresentada pelo MPDFT trata de “acusações antigas, mentirosas e integrantes de uma ofensiva grandiosa, motivada por interesses políticos, para tentar desmoralizar o parlamentar perante a opinião pública”.