BRASÍLIA – O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) completou 30 horas em greve de fome e sem deixar a Câmara dos Deputados em protesto contra a decisão do Conselho de Ética, que aprovou na quarta-feira (9) o parecer favorável à cassação de seu mandato. Ele atribui o resultado a uma interferência política do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Por meio de nota, divulgada pela assessoria de imprensa do político no fim da manhã desta quinta-feira (10), Glauber permanecerá no plenário 5 da Câmara, onde ocorreu a reunião do Conselho de Ética, e passará mais uma noite no local, dormindo no chão. “Estou bem. Estou firme”, afirmou o deputado.
A assessoria de imprensa também deu detalhes da rotina do político nas últimas 30 horas. O deputado dormiu entre 00h e 4h, após isso respondeu mensagens de apoiadores e conversou com sua equipe. Parlamentares aliados, incluindo sua mulher, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), têm se revezado no plenário para prestar apoio.
Glauber, que está com 91,7 quilos, está sendo acompanhado por um médico e, na manhã desta quinta-feira, ingeriu dois copos de isotônico e água. Além disso, ele irá tomar banho na própria Câmara durante o período em que estiver em protesto. Ainda segundo a assessoria, o político tem mantido a tranquilidade ouvindo música: “Entre as preferidas está a banda NX Zero”.
Nesta quinta-feira, por volta de 12h, será realizado um ato ecumênico com deputados e apoiadores no plenário 5 em solidariedade ao político do Psol. “O apoio de todos tem sido fundamental para o sustento da defesa de Glauber. A família do parlamentar está acompanhando de perto a situação”, diz trecho da nota.
Glauber Braga improvisou uma cama no chão do plenário do Conselho de Ética- Foto: Lula Marques / Agência Brasil
Do lado de fora do plenário, um policial legislativo está a postos e controlando a entrada e saída de pessoas no local. A decisão de permanecer no local e fazer greve de fome foi tomada individualmente por Glauber em forma de protesto ao caso dele no Conselho de Ética.
A deputada Luiza Erundina (Psol-SP) anunciou, na ocasião, que também faria greve de fome e ficaria no plenário do colegiado. Aliados, porém, a convenceram a se retirar na parte da noite por questões de saúde. A deputada tem 90 anos de idade.
Cassação
Glauber Braga foi alvo de uma ação no Conselho de Ética porque expulsou, em abril de 2024, um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) que o provocou a chutes dos espaços da Câmara.
Apesar de ter sido aprovado no Conselho de Ética, o parecer que pede a cassação do mandato dele ainda precisa ser analisado pelo plenário da Casa.
Para ter o mandato cassado efetivamente, a recomendação do colegiado precisa do apoio de 257 dos 513 deputados. Antes disso, o deputado também pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Interferência de Lira
Deputados do Psol e de partidos aliados declaram abertamente que há interferência do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pela cassação do mandato de Glauber.
Eles apontam articulações de Lira nos bastidores e criticam a conivência do atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Na quarta-feira, líderes declararam que Motta não os atendia desde a manhã.
O presidente da Câmara não abriu a ordem do dia – que marca o início das votações no plenário – até a noite, quando o relatório foi aprovado no Conselho de Ética. A decisão destoou do padrão de sua gestão, em que a ordem do dia costuma ser aberta à tarde.
O presidente da Câmara também ignorou os apelos da bancada do Psol para antecipar a abertura da ordem do dia, o que encerraria a sessão do Conselho de Ética antes da votação do relatório. Diante disso, deputados acusam Motta de agir em conluio com Lira.
Motta também cancelou a reunião do colégio de líderes desta quinta-feira. A reunião é uma agenda fixa. Com a escalada do caso de Glauber, havia a expectativa de que o presidente da Câmara fosse cobrado a se posicionar.
Glauber é firme ao dizer que Lira quer cassá-lo pelas denúncias feitas sobre o Orçamento Secreto e a distribuição de emendas enquanto o alagoano presidia a Câmara dos Deputados.
O mandato de Arthur Lira terminou em fevereiro. Antes, ele apoiou a candidatura Hugo Motta para ser seu sucessor. O deputado alvo do processo afirma que o parecer do relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), foi “comprado” por Lira.