BRASÍLIA - Deputados da oposição acionaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) pela nomeação de dois maquiadores no gabinete da parlamentar. Eles pedem a investigação e eventual responsabilização de Hilton por improbidade administrativa.
Uma representação foi protocolada na noite de segunda-feira (23) pelo deputado federal Junio Amaral (PL-MG). Nesta terça-feira (24), outra denúncia foi oficializada pelo líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), e pelo deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP).
O caso foi relevado pelo portal Metrópoles. Hilton tem como secretários parlamentares de seu gabinete Ronaldo Hass e Índy Montiel, que são maquiadores profissionais. Os dois costumam publicar, em seus perfis no Instagram, produções feitas na deputada federal e em outras pessoas.
Entre os trabalhos que publicam com Hilton, estão maquiagens para a gravação de entrevistas, fotografias para revista, eventos voltados ao público LGBTQIAPN+, como a ‘Marsha Trans’, realizada em Brasília em janeiro deste ano, e ensaio de Carnaval.
Há, também, registros de produções para eventos políticos, como a posse de Erika Hilton na Câmara, além de quando a deputada assumiu a liderança do Psol e recebeu condecoração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Hass acompanhou Hilton em viagem a Portugal na última semana a convite do Parlamento Europeu. Ele ocupa um cargo na Câmara desde 6 de maio de 2024 e, atualmente, recebe um salário bruto de R$ 9,6 mil. Montiel foi nomeada no gabinete em 12 de dezembro, e tem salário de R$ 2.126,59.
Hilton negou irregularidades e afirmou que Hass e Montiel não foram nomeados para maquiá-la, mas porque contribuem para sua atuação parlamentar. A deputada destacou que os conheceu como maquiadores, mas se identificou com "outros talentos" e os chamou para o gabinete. Leia a íntegra da nota ao final do texto.
De acordo com o portal da Câmara dos Deputados, a nomeação de secretários parlamentares em gabinetes deve ter como finalidade a prestação de serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo na execução das atividades parlamentares. Há uma norma que proíbe a contratação de caráter particular para prestação de serviços nos espaços da Câmara.
Na representação à PGR, Junio Amaral alegou que Hilton lotou em seu gabinete dois servidores, “desviando suas funções para atender a parlamentar como maquiadores, função totalmente irregular diante das atribuições” definidas em norma da Câmara.
"Temos o entendimento claro de uma interpretação literal da norma que contratar maquiadores com recurso público da verba de gabinete da Câmara de Deputados é promover o desvio de função e finalidade dos secretários parlamentares para benefício pessoal, caso em que temos ampla jurisprudência entendendo que tais situações são compreendidas como ato de improbidade administrativa”, completou o deputado mineiro.
Zucco e Bilynskyj repetiram os argumentos e afirmaram que "segundo publicações dos próprios nomeados em suas redes sociais, bem como os registros fotográficos, ambos possuem como profissão a atividade de maquiadores e atuam essencialmente como maquiadores pessoais da parlamentar, incluindo em eventos oficiais e particulares, como o Carnaval e a cerimônia de condecoração da deputada pelo Ministério das Relações Exteriores".
"A manutenção de tais nomeações ao longo de vários meses reforça o dolo da conduta, evidenciando não um episódio isolado, mas uma prática sistemática de desvio de finalidade. A utilização deliberada e reiterada de cargos comissionados para atividades incompatíveis com as atribuições legais configura um claro deboche à moralidade pública e ao erário", concluíram.
Veja abaixo a nota publicada por Erika Hilton:
"Não, meus amores, eu não contrato maquiador com verba de gabinete. Isso é simplesmente uma invenção.
O que eu tenho são dois secretários parlamentares que, todos os dias, estão comigo e me assessoram em comissões e audiências, ajudam a fazer relatórios, preparam meus briefings, dialogam diretamente com a população e prestam um serviço incrível me acompanhando nas minhas agendas em São Paulo, em Brasília, nos interiores e no exterior.
Tudo completamente comprovado por fotos, vídeos e pelo próprio trabalho cotidiano deles.
E sim, conheci eles como maquiadores, identifiquei outros talentos e os chamei para trabalhar comigo. Quando podem, fazem minha maquiagem e eu os credito por isso. Mas se não fizessem, continuariam sendo meus secretários parlamentares.
E a velocidade com que espalharam essa mentira ontem é desumana. Um tweet, que virou uma matéria de título tendencioso, que virou trending topic, que virou uma onda de tweets e postagens da parlamentares da extrema-direita e daquelas figurinhas de sempre.
Isso não são sintomas de uma reação por uma contratação vista como suspeita num gabinete. Isso temos dia sim, dia não, na política. E nunca acontece dessa forma.
Isso são sintomas de uma perseguição, de uma tentativa de desmonte generalizado de tudo que alguém faz e já fez.
São sintomas de uma revanche, daqueles eternos derrotados no debate público, que ainda não digeriram de tal PL que foi barrado, ou então porque tive sucesso em uma proposta ou denúncia que não queriam que avançasse.
De políticos e empresários que ainda não digeriram nem que a PEC pelo Fim da Escala 6x1 conseguiu as assinaturas necessárias pra tramitar. Que não digeriram o contato direto com a juventude capaz de, em duas semanas, barrar um PL que demoraram um ano pra escrever e articular. Que não digeriram um vídeo de denúncia de uma fake news ou o simples fato de que eu, Erika Hilton, existo e sigo viva.
Que a indigestão dessa gente comigo continue se acumulando. Que os exploda por dentro. Porque aqui, eu e meu gabinete continuaremos trabalhando.
Comigo, com Ronaldo, com Indy e com tanta gente extremamente qualificada. Gente que você vai fazer uma maquiagem e percebe que a pessoa faria um trabalho melhor do que equipes inteiras."