BRASÍLIA - A comissão de senadores criada para tratar sobre a tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros se reuniu, nesta quarta-feira (23/7), com o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e a embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Viotti. Representantes do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e diplomatas também participaram do encontro. 

Em 9 de julho, o presidente norte-americano, Donald Trump, endereçou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para informar sobre a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos a partir de 1º de agosto. 

Durante o encontro desta quarta-feira, que aconteceu de forma remota, o chanceler Mauro Vieira detalhou os esforços recentes do governo brasileiro em interlocuções com o setor privado norte-americano e com autoridades do Tesouro dos Estados Unidos, em articulação conduzida por diferentes ministérios. 

Vieira ressaltou ainda que, nos últimos 15 anos, os Estados Unidos mantiveram superávit de US$ 410 milhões na balança com o Brasil e que a complementariedade entre as economias tem sido sistematicamente apresentada aos EUA. 

O Itamaraty afirma que os primeiros contatos entre os governos ocorreram antes mesmo do anúncio oficial das tarifas por Donald Trump. O governo brasileiro sempre argumentou que, com déficit comercial, o país não deveria ser alvo das tarifas — como ocorre com Austrália e Reino Unido.  

Segundo o Ministério de Relações Exteriores, a expectativa inicial era de negociação futura com o Brasil. E no dia 4 de julho, a USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) informou ao governo brasileiro que a decisão final seguia pendente da Casa Branca. 

Já o MDIC destacou, durante o encontro, que o governo tem mapeado preocupações nas áreas de agronegócio, mineração, big techs e produtos perecíveis e afirmou haver um consenso entre os setores de que o caminho do diálogo é fundamental. 

Governo brasileiro espera resposta dos EUA 

O governo brasileiro ainda aguarda resposta à carta enviada aos Estados Unidos cobrando um posicionamento a uma proposta confidencial enviada pelo Brasil no dia 16 de maio, enumerando um conjunto de itens em que se poderia avançar no acordo comercial. 

Por isso, na terça-feira (15/7), Alckmin e o chanceler Mauro Vieira assinaram um documento, entregue ao secretário Howard Lutnick e ao embaixador Jeremy Greer, do Unites States Trade Representative (USTR), pedindo uma resposta ao documento que foi encaminhado para a negociação.

Alckmin já afirmou que o governo espera resolver até o dia 1º de agosto a questão sobre as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump às exportações brasileiras para os Estados Unidos. Mas ele não descarta pedir adiamento da data para início da cobrança. 

"Olha, o que que eu tenho ouvido e acho que esse é um pensamento comum do presidente Lula e dos empresários aqui envolvidos, do setor industrial, do agro, serviços, comércio. Nós queremos negociação, é urgente, o bom é que se resolva aí nos próximos dias. Se houver necessidade nessa negociação de prorrogar, não vejo o problema. Agora, o importante é resolver", disse.

Senadores vão ao EUA para dialogar

Composta por oito senadores, a comitiva estará nos EUA entre os dias 29 e 31 de julho e deve se reunir também com representantes do Congresso norte-americano e empresários. “Não temos a prerrogativa de abrir qualquer negociação, mas temos o dever de dialogar”, ressaltou o líder da missão, senador Nelsinho Trad (PSD-MS). 

De acordo com estudos técnicos apresentados pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, comandada por Trad, as novas tarifas impostas pelos EUA podem desestabilizar setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio, a metalurgia, a energia, a indústria de transformação e a produção de celulose, colocando em risco até 1,9 milhão de empregos em estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.  

Os números apresentados mostram ainda que, do lado americano, estados como Califórnia (US$ 7,19 bilhões), Flórida (US$ 6,15 bilhões), Texas (US$ 5,81 bilhões) e Nova Jersey (US$ 2,85 bilhões) dependem fortemente das exportações brasileiras — como petróleo bruto, ferro e aço, café, açúcar, carnes, celulose e peças de aeronaves — e agora enfrentam possíveis interrupções em cadeias produtivas estratégicas e fluxos bilaterais de investimento. 

Fazem parte da comissão:

  • Presidente: Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE)
  • Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo
  • Tereza Cristina (PP-MS)
  • Fernando Farias (MDB-AL)
  • Astronauta Marcos Pontes (PL-SP)
  • Esperidião Amin (PP-SC)
  • Rogério Carvalho (PT-SE)
  • Carlos Viana (Podemos-MG)