BRASÍLIA - A estratégia da oposição de obstruir o plenário da Câmara dos Deputados não rendeu os frutos esperados, não pelo menos, por enquanto. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não deu indícios de que irá acelerar a tramitação do projeto de lei que anistia os réus do 8 de janeiro e também não incluiu a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que põe fim ao foro na ordem do dia para votação do plenário.

O resultado aquém do esperado não foi surpresa para o deputado Maurício do Vôlei (PL-MG), para quem a estratégia pareceu ineficiente desde o início. "Não ia dar em nada", disse. "Pelo contrário, acho que a gente ia sair prejudicado nessa ação. Não temos votos para pautar a anistia. Só que eles não entenderam. Falei para vários líderes do PL e da oposição que não era o caminho, que era um erro", avaliou o deputado em declaração ao Café com Política, de O TEMPO

Eleito por Minas Gerais e disposto a concorrer à reeleição no próximo pleito, o deputado sugeriu aos colegas de oposição que fosse feito um acampamento durante 15 dias com o objetivo de "parar o Brasil". "Hoje nós estamos correndo o risco de ter deputados suspensos por seis meses. É um absurdo, é um absurdo, mas é um resultado do que foi feito", afirma.

"Se a gente tivesse ido para a grama acampar aqui no Plano Piloto, sem dúvida nenhuma o Brasil estaria parado há mais de uma semana e nós teríamos, sim, uma negociação", completa. Para ele, pressionar os presidentes da Câmara e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), nunca foi uma opção. "Falei: 'não concordo com o que vocês estão fazendo, não é o caminho. Vocês estão pressionando de forma errada. Quem tem que pressionar é o povo'", prosseguiu.

A obstrução física dos plenários da Câmara e do Senado durou entre 35 e 40 horas nas duas Casas, e a oposição tinha três objetivos com o gesto: garantir que fossem pautados o PL da Anistia e a PEC do Fim do Foro na Câmara e a abertura do processo de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no Senado. 

Em um gesto turbulento, o presidente Hugo Motta retomou o controle do plenário e ignorou, pelo menos à primeira vista, o acordo firmado entre PL e partidos do Centrão pelo avanço da PEC do Fim do Foro. No Senado, Alcolumbre deu um recado claro em reunião com as lideranças. Ele disse que a prerrogativa de abrir o impeachment era dele enquanto presidente do Senado, não importando quantos senadores fossem favoráveis ao processo. 

Para Maurício do Vôlei, nenhuma dessas pautas irá prosperar. "Acho que não vai ser pautado", afirma.

Frente única para eleições

A inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em duas ações diferentes movimentou uma ainda indecisa direita que espera, ou pela reversão da situação eleitoral do ex-presidente, ou pela indicação de quem será apoiado por ele para a disputa em 2026. O deputado Maurício do Vôlei acredita que Bolsonaro conseguirá concorrer ao pleito. Ele admite, entretanto, que, na impossibilidade do ex-presidente sair candidato, o certo é que a direita se una em uma frente única em torno do nome apoiado pelo próprio Bolsonaro.

"Acredito que Bolsonaro vai reverter a situação e poderá disputar em 2026. O homem não cometeu crime nenhum. Que crime ele cometeu? O que está acontecendo com ele é perseguição política. O Trump [presidente dos Estados Unidos] está falando, todo o mundo está falando que estamos em uma ditadura do Judiciário", declarou.

Sobre as opções, Maurício do Vôlei reconhece que há algumas. "Supondo que ele não consiga disputar a eleição, temos grandes nomes que ele construiu durante o mandato. A própria Michelle [Bolsonaro, ex-primeira-dama], o Tarcísio [governador de São Paulo]... Temos o próprio Romeu Zema em Minas Gerais, o Ronaldo Caiado em Goiás... São forças importantes para a eleição", avalia. "Vai ser união total. Todos contra o PT", completa. "Todas as forças serão unidas em torno de um nome só para poder disputar a eleição em uma frente única. Lógico, será quem o presidente Bolsonaro indicar caso ele não consiga disputar", completou.

Por que Bolsonaro está inelegível?

O plenário do TSE declarou Bolsonaro inelegível por maioria de votos em julgamento que aconteceu ainda em 2023. A avaliação da Corte é que Bolsonaro cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada em 18 de julho de 2022. No encontro, o ex-presidente pôs em xeque a validade das eleições e usou a estrutura pública para atacar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro recebeu, ainda, uma segunda condenação à inelegibilidade, também por abuso de poder. O TSE declarou o ex-presidente inelegível, novamente, em ação que também condenou o general Braga Netto. Os dois foram punidos pelas comemorações do Bicentenário da Independência em 7 de setembro de 2022, em Brasília e no Rio de Janeiro.

A Corte concluiu que Bolsonaro e Braga Netto usaram a data, bens, serviços e recursos públicos com finalidade eleitoreira, transformando o 7 de setembro em ato de campanha para apoiadores dos candidatos.