O Senado deve ter, nos próximos dias, uma disputa interna por uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). O ministro Raimundo Carreiro, que ocupa uma das três vagas que a Casa tem direito à indicação, se tornará embaixador do Brasil em Portugal, após ter tido a nomeação aprovada pelos senadores.

Com estratégias diferentes, três nomes estão colocados na disputa: os senadores Antonio Anastasia (PSD-MG), Kátia Abreu (PP-TO) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Anastasia tem adotado o perfil mais reservado entre os três. Quando questionado, seja publicamente ou em conversas privadas, diz que prefere esperar que a vaga fique oficialmente vaga e que especulações têm saído dos outros, e não dele. 

O senador mineiro tem como principal cabo eleitoral o conterrâneo Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado. Além disso, há a expectativa de que quase toda a bancada do PSD, a segunda maior da Casa, com 12 membros, votem em Anastasia, além de parte dos senadores tidos como independentes (que não se consideram nem governistas, nem oposição).

Já os outros dois postulantes falam mais abertamente sobre a intenção de chegar ao TCU, mas têm disputado o apoio de governistas. Apesar de crítica ao governo Bolsonaro em algumas pautas, como meio ambiente e relações exteriores, Kátia Abreu conta com a simpatia do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Também são esperadas adesões de caciques do MDB, PP e DEM e de parte da oposição.

Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho aposta no trânsito que tem com senadores de todos os partidos, além de buscar apoio do presidente Jair Bolsonaro.

A expectativa é que a indicação do Senado ao TCU seja feita antes do recesso parlamentar. Os candidatos têm que ser sabatinados pela Comissão de Assuntos Econômicos da Casa antes de ir ao plenário.

Provocações

Na sessão da última quinta-feira (2), Kátia Abreu, carregando uma bandeja de doces de um evento organizado por ela, fez uma brincadeira com os outros dois candidatos.

“Estes doces aqui são de Pelotas, que já são patrimônio imaterial, conhecidos no mundo inteiro. Eu soube, há poucos dias, que um colega que disputa o TCU trouxe várias caixas de uvas para os eleitores e que outro trouxe várias latas de doce de leite de Mococa, de lá, da fabricação. Eu, infelizmente, não tinha trazido nada. Então, aqui há 47 docinhos, que são dos meus eleitores. Eu vou levar para cada um. Vou começar com o meu eleitor número um, Anastasia, e com outro número um também, Fernando Bezerra.”

Também em tom bem-humorado, Anastasia respondeu à senadora.

“Eu agradeço os cumprimentos da senadora Kátia, mas, primeiro, não houve distribuição de doce de leite; segundo, senadora Kátia, não é Mococa, que é do estado de São Paulo, é Viçosa, que é uma cidade. É Viçosa. Eu já até trouxe muitos.”

Obstáculo a Fernando Bezerra

Na última quarta-feira (1º), uma resolução do próprio Tribunal de Contas da União vetou nomeações de indicados que respondem por ações na Justiça. O líder do governo é alvo de uma ação por improbidade administrativa no âmbito da Lava Jato, em Curitiba, relacionada a ações do diretório do MDB em Pernambuco.

Para minimizar o impacto da decisão do TCU, Bezerra vem fazendo contato com senadores dizendo que não há nenhuma ação penal contra ele por crime doloso contra a administração pública. O parlamentar aposta na nova Lei de Improbidade Administrativa, segundo a qual diretórios partidários só podem ser processados com base na Lei dos Partidos.

TCU

O Tribunal de Contas da União é um órgão de controle externo do governo federal e auxilia o Congresso na função de acompanhar a execução do Orçamento do país.

Dos nove ministros do TCU, três são indicados pelo Senado, três pela Câmara e três pelo Poder Executivo. Das vagas reservadas ao Executivo, uma é destinada para membros do Ministério Público que atuam junto ao TCU e uma é para auditores de carreira do tribunal. A terceira vaga é de livre indicação do presidente da República.