BRASÍLIA - O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou, nesta terça-feira (15), a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras como forma de defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).  

Mourão, que foi vice-presidente de Bolsonaro no governo passado, declarou não aceitar que Trump “venha meter o bedelho” na ação que tem o ex-presidente como réu por tentativa de golpe de Estado. O processo tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). 

“Eu não aceito que o [Manuel] Macron, que a Greta Thunberg, que o Leonardo DiCaprio e outros venham meter a mão em coisas aqui do Brasil. Eu também - e senador Humberto Costa, somos oposição um ao outro - não aceito que o Trump venha meter o bedelho em um caso aqui que é interno nosso. Há uma injustiça sendo praticada contra Jair Bolsonaro? Há uma injustiça sendo praticada. Mas compete a nós, brasileiros, resolvermos isso”, declarou. 

A manifestação foi feita durante audiência sobre as taxas dos EUA ao Brasil na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Durante a fala, Mourão se dirigiu ao senador Humberto Costa (PT-PE) para endossar o discurso crítico da base governista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao tarifaço de Trump. 

O presidente dos Estados Unidos adotou, na última semana, um tom crítico ao STF, com citações diretas a Jair Bolsonaro. Trump diz que o ex-presidente é alvo de uma “caça às bruxas” e pediu que ele seja deixado em paz. Com essa mesma motivação, anunciou, na quarta-feira (9), uma tarifa extra de 50% sobre as exportações brasileiras.  

O impacto da sanção também ao comércio brasileiro também foi discutido na audiência. “Em termos de tarifas médias aplicadas para produtos americanos, a nossa margem está em torno de 2,7%. Essa questão específica de 50% praticamente inviabiliza uma grande quantidade de negócios industriais que são feitos entre empresas, entre pessoas”, disse o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Jefferson de Oliveira Gomes. 

Ele destacou que a medida causa uma redução de empregos e de negócios, mas que o efeito a longo prazo causa mais preocupação, especialmente porque os EUA são o terceiro maior parceiro comercial do Brasil. “É muito importante a serenidade do processo de negociação no caso específico”, frisou. 

“Nós teremos um problema muito sério no Brasil se isso se mantiver da forma como está”, acrescentou o presidente da Associação Brasileira dos Importadores (ABIMP), Michel Platini Juliani. Ele se referiu ao efeito reflexo de uma reciprocidade. 

"Se houver a reciprocidade ampla e irrestrita como vem se discutindo, nós vamos atingir frontalmente todo o mercado de importação do Brasil. Isso vai gerar efeitos, nesse momento, diretos. Mas tem efeitos a longo prazo que nós não conseguimos nesse momento medir”, explicou. 

Segundo Juliani, é preciso uma negociação que causa “o menor impacto possível” aos produtores brasileiros. Ele também criticou o “excesso de burocracia” que trava processos de importação e cobrou a entrada da Receita Federal, para simplificar processos, nas negociações sobre o tarifaço intermediadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. 

O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Philip Fox, declarou que o governo brasileiro sempre "alta prioridade e atenção" com os EUA, além de relatar a relação com a gestão Trump ao longo deste ano.

"O contato com os norte-americanos foi feito nos últimos meses de forma constante, e continua sendo de forma constante. O mais recente foi cinco dias antes da apresentação dessas tarifas de 50%", disse, destacando que o Brasil negocia, agora, como reagir.

O embaixador completou: "Foi uma medida na magnitude bastante imprevisível, essa questão dos 50%. Acho que nem eles mesmos, os negociadores americanos, esperavam uma medida nessa magnitude. Então é um momento para que nós nos organizemos e examinemos a melhor maneira de reagir".