O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, questinou a combinação "ódio" e "violência" com a religiosidade invocados por invadores que depredaram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2022.
Ao participar do evento Democracia Inabalada, na trade desta segunda-feira (8), no Congresso Nacional, Barroso descreveu o relato que ouviu da segurança da Suprema Corte ao observar invasores evocando Deus enquanto destruiam o patrimônio público e proferiam palavras de ódio contra os ministros da Corte.
"Após marretadas nas paredes e arremessos de móveis e objetos, muitos dos invasores se ajoelhavam no chão e rezavam fervosorsamente. De onde, Deus do céu, pode ter saído essa combinação implausível de religiosidade com ódio, violência e desrespeito ao próximo. Que desencontro espiritual pode ser esse que não é capaz de mínima distinção entre o bem e o mal, entre o estado de natureza e a civilização? Que tipo de inspiração terá empurrado essas pessoas numa ribanceira moral?", questionou o ministro.
De acordo com Barroso, a destruição física dos prédios públicos não foi capaz de abalar o que cada um dos Poderes simboliza: “a vontade majoritária do povo” representada por cada um dos Três Poderes. O ministro ainda classificou de “derrota de espírito” a transformação de cidadãos “comuns”em criminosos, punidos pelas destruições provocadas nas invasões.
“A tentativa de golpe de Estado, de abolição violenta do Estado democrático de direito e a depredação do patrimônio público, entre outros delitos, estão sendo punidos na forma da lei. Milhares de pessoas, aparentemente comuns, insufladas por falsidades, teorias conspiratórias, sentimentos antidemocráticos e rancor foram transformadas em criminosos, aprendizes de terroristas. Uma triste derrota do espírito”, disse.
O magistrado participou do ato Democracia Inabalada, proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que ocorreu, junto com outras autoridades da política nacional e estaduais, no Salão Negro do Congresso Nacional.
Supremo
Barroso acompanhou o processo de recuperação do Supremo ao longo de 2023. Então como vice-presidente da Corte, no mandato de Rosa Weber, percorreu com a ministra e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva as áreas depredadas do Palácio do STF logo na noite de 8 de janeiro. Ele ocupa a presidência do tribunal desde 28 de setembro de 2022.
O edifício-sede do Supremo Tribunal Federal foi o mais vandalizado e que teve os maiores prejuízos entre os Três Poderes da República. Foram gastos R$ 8,6 milhões com 951 itens que foram furtados, quebrados ou completamente destruídos. Além disso, a despesa para reconstrução do Plenário, com troca de carpetes, cortinas e outros objetos e materiais foi de R$ 3,4 milhões, totalizando cerca de R$ 12 milhões em prejuízo para os cofres públicos.
Por lá não houve mudança no procedimento de entrada nem na visitação turística, que segue sendo realizada durante a semana. Também não há, um ano depois, nenhuma área interditada no tribunal. A segurança está em processo de ampliação do efetivo nos últimos anos e que, de acordo com a assessoria do tribunal, segue sendo ampliado independentemente do que aconteceu em 8 de janeiro do ano passado.