A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos de 8 de janeiro aprovou, nesta quarta-feira (18), o relatório final da senadora Eliziane Gama (PSD-MA) que pede o indiciamento de 61 pessoas. Entre elas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno.
Após mais de seis horas de discussão , o documento de mais de 1300 páginas foi aprovado por 20 votos a 11. A aprovação com folga já era esperada, já que os governistas são maioria entre os 32 integrantes com poder de voto na CPMI.
Bolsonaro é o primeiro citado no capítulo que lista os alvos de pedidos de indiciamento. O ex-presidente é apontado pelos crimes de associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado com condutas dolosas, ou seja, praticados com intenção.
A relatora declarou que as investigações realizadas por meio de depoimentos e documentos compartilhados apontaram o nome de Bolsonaro em evidência. “O 8 de janeiro é obra do bolsonarismo”, escreveu Eliziane, acrescentando que houve um ataque à democracia.
“Massas foram manipuladas com discurso de ódio; milicianos digitais foram empregados para disseminar o medo, desqualificar adversários e promover ataques ao sistema eleitoral; forças de segurança foram cooptadas; tentou-se corromper, obstruir e anular as eleições; um golpe de Estado foi ensaiado; e, por fim, foram estimulados atos e movimentos desesperados de tomada do poder”, escreveu.
Ministros do governo Bolsonaro também foram alvos de pedidos de indiciamento. Entre eles, Walter Braga Netto, que chefiou a Defesa e a Casa Civil e disputou como vice na chapa do ex-presidente à reeleição; Augusto Heleno, que foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência; e Paulo Sérgio Nogueira, que foi chefe da Defesa.
Assessores do ex-presidente também estão na lista, como seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, além da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que Eliziane citou ser “uma das parlamentares mais atuantes no bolsonarismo” e “considerada a ‘bolsonarista das bolsonaristas’ no âmbito parlamentar”. Veja aqui a lista completa dos 61 que tiveram indiciamentos solicitados.
Com o relatório aprovado, os pedidos de indiciamento serão encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF), órgão que irá decidir se oferece ou não denúncias com base nas investigações.
O relatório final também sugere que as investigações sobre a responsabilidade de um grupo sejam aprofundadas. É o caso do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e do hacker Walter Delgatti Neto, que diz ter tratado com Bolsonaro sobre tentativas de invasão ao sistema eleitoral.
Além dos pedidos de indiciamento e aprofundamento de investigações, o relatório de Eliziane Gama apresenta cinco projetos de lei a serem apreciados pelo Congresso Nacional:
Parlamentares da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva apresentaram dois relatórios paralelos. Porém, ele só seria votado caso o parecer de Eliziane não fosse aprovado pela maioria dos membros da CPMI.
O texto pede o indiciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pelos crimes de prevaricação (quando um agente público se omite ou deixa de denunciar uma ilegalidade), deterioração de patrimônio público e dano qualificado.
Para os bolsonaristas, Lula foi omisso nos ataques aos prédios dos Três Poderes. O parecer ainda cita o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Gonçalves Dias, como “amigo íntimo” do presidente e pede indiciamento do militar.
Outro alvo do relatório da oposição é o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Segundo o documento, ele teria ignorado alertas de inteligência que recebeu nos dias anteriores ao 8 de Janeiro. Também afirma que Dino se negou a entregar imagens do circuito interno de câmeras do Ministério e mandou apagar os arquivos.