O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos coordenadores da campanha à reeleição do pai, o presidente Jair Blsonaro (PL), afirmou não ser possível controlar a reação de apoiadores que contestem o resultado das eleições de outubro. O próprio Bolsonaro já fez discursos indicando que pode não aceitar uma eventual derrota nas urnas.
Em entrevista ao Estado de S. Paulo, ele foi questionado qual será a posição do presidente e se haverá endosso caso haja um levante semelhante ao realizado nos Estados Unidos, quando apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, prédio usado como centro legislativo americano.
"Como a gente tem controle sobre isso? No meu ponto de vista, o [Donald] Trump não tinha ingerência, não mandou ninguém para lá [invadir o Capitólio]. As pessoas acompanharam os problemas no sistema eleitoral americano, se indignaram e fizeram o que fizeram. Não teve um comando do presidente e isso jamais vai acontecer por parte do presidente Bolsonaro. Ele se desgasta. Por isso, desde agora, ele insiste para que as eleições ocorram sem o manto da desconfiança", respondeu.
Ainda na entrevista, Flávio não respondeu diretamente quando foi perguntando se Bolsonaro irá aceitar o resultado do pleito. "O presidente pede uma eleição segura e transparente, era o que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] deveria fazer por obrigação. Por que não atende às sugestões feitas pelo Exército se eles apontaram que existem vulnerabilidades e deram soluções? A bola está com o TSE", disse.
"Alguns avanços o TSE já fez, que, se forem implementados, dificultam a possibilidade de fraude. Se tem mais coisas que podem ser feitas para diminuir, por que não fazer? Quem quer dar golpe na democracia, Bolsonaro ou quem está resistindo a atender a sugestões técnicas?", acrescentou.
Para o senador, "essa resistência do TSE em fazer o processo mais seguro e transparente obviamente vai trazer uma instabilidade. E a gente não tem controle sobre isso. Uma parte considerável da opinião pública não acredita no sistema de urnas eletrônicas".
Flávio destacou que "não está na mesa" do mandatário decretar alguma medida de exceção, como estado de sítio, por conta do descontentamento com o sistema eleitoral. "O que está na mesa hoje é que o TSE dê segurança para que o eleitor mais humilde tenha a certeza de que o candidato que escolher vai [receber] o voto de verdade", frisou.
Na avaliação do filho 01, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) em debate no Senado com aumento de auxílios sociais pode ter um "impacto possível" no cenário eleitoral a favor de Bolsonaro, mas está sendo feita "porque os mais pobres precisam", e não com a preocupação "se vai dar voto ou não".
"Não acho que será difícil aprovar [a PEC]. Há consenso de que é necessário um pacote como este. Não foi fácil lidar com tudo que aconteceu e, no meu ponto de vista, o saldo é positivo para o governo. O eleitor vai saber pesar isso tudo. Agora, se vai querer que volte aquela quadrilha do PT para assaltar o País e estuprar as estatais... No governo Bolsonaro isso não acontece e as pessoas sentem melhoria na qualidade de vida", completou.
O coordenador da campanha do pai acusou ainda adversários eleitoral de criarem uma "narrativa mentirosa" ao abordarem a inflação a mais de 12% e o índice de fome que atinge 33 milhões de pessoas. "Como alguém pode achar que estar trabalhando e ganhando menos do que a média é pior do que estar desempregado?", questionou, acrescentando que "nenhum governo é perfeito", mas o saldo da atual gestão federal é "imensamente positivo".
Flávio disse ainda ao Estadão não saber se Bolsonaro realmente telefonou para o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro alertando sobre uma possível operação de busca e apreensão após a divulgação de escândalo de corrupção na pasta em março, também pelo jornal. Mas, se a ligação tiver sifo feita, foi com boa intenção.
"Não sei se ele telefonou, mas, quando se analisa o contexto, pode ser algo para confortar a família. Qualquer pessoa que estivesse acompanhando, em função da gasolina que grande parte da mídia botou no caso... A busca e apreensão eram uma coisa possível de acontecer. Se tivesse interferência na PF [Polícia Federa], coisa que Bolsonaro não faz, por que o cara seria preso?", frisou.
O senador completou que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pode ser criada no Senado para investigar o caso "quer fazer palanque político na véspera da eleição". Ele diz ser "contra um factoide como esse para atrapalhar a eleição, como foi a CPI da Covid. Espero que o Senado não caia nessa armadilha que só bota o Senado cada vez mais em descrédito".
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