Atritos

Tensão com Padilha gera expectativa por mais mudanças em 'blocão' de Lira

Na segunda-feira (5), o PSB pediu a saída do 'blocão' articulado pelo presidente da Câmara e que reunia 176 deputados federais

Por Lucyenne Landim | Fransciny Ferreira
Publicado em 06 de fevereiro de 2024 | 14:58
 
 
 
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A insistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em manter no cargo o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pode gerar uma movimentação ainda maior do que apenas a saída do PSB do chamado “blocão” da Câmara. A expectativa nos corredores do Congresso Nacional é de que mais partidos podem “abandonar” o grupo articulado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A troca de Padilha é uma pressão de Lira, que tem assumido uma ofensiva contra a articulação política do governo e prometido travar pautas que interessam à equipe de Lula. Não diferente do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o alagoano circula pelo Congresso com grande influência em facilitar ou dificultar a vida do Palácio do Planalto, que precisa, especialmente, contar com um bom-humor dos deputados em temas econômicos.

A avaliação é a de que Padilha está “queimado”, e não é de hoje. O grupo próximo a Lira tem problemas com o ministro desde o início do governo Lula, no último ano, e já ameaçou rejeitar propostas cruciais até para o funcionamento do governo. As insatisfações do presidente da Câmara vão além da articulação política de Padilha, e são alimentadas até por entraves na liberação de emendas.

O clima fez com que Lira parasse de conversar com Padilha. Os ministros do Orçamento e Planejamento, Simone Tebet, e da Casa Civil, Rui Costa, é que têm circulado na Câmara para contornar a relação necessária entre o alagoano e o Executivo. Situação semelhante acontece no Senado, local em que a articulação política é comandada pelo líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA). É dito nos bastidores que "Padilha não pisa mais lá".

Abertura do ano Legislativo com recados

Na última segunda-feira (5), Lira mandou recados a Lula: "Exigimos, como natural contrapartida, o respeito às decisões e o fiel cumprimento aos acordos firmados com o Parlamento. [...] Fundamental também relembrar que nossa Constituição garante ao Poder Legislativo o direito de discutir, modificar, emendar para, somente aí, aprovar a peça orçamentária oriunda do Executivo. Não fomos eleitos para carimbar”.

Ele se referia ao veto de Lula que barrou R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão no Orçamento deste ano. “O Orçamento é de todos e para todos os brasileiros e brasileiras: não é e nem pode ser de autoria exclusiva do Poder Executivo e muito menos de uma burocracia técnica que, apesar de seu preparo, não duvido, não foi eleita para escolher as prioridades da nação. E não gasta a sola de sapato percorrendo os pequenos municípios brasileiros como nós, parlamentares”, completou.

Na Câmara, Padilha amenizou a crise com Lira. “Nunca existiu qualquer rompimento e nunca existirá. Este governo, sob a liderança do presidente Lula, não gera conflito, não entra em conflito. Nós estamos num grande esforço de recuperação e reabilitação das relações institucionais”, frisou.

Novo desenho na Câmara

Agora, integram o chamado “blocão” de Lira a federação PSB-Cidadania e mais seis partidos: União Brasil, PP, PDT, Avante, Solidariedade e Patriota. Com o PSB, o grupo reunia 176 dos 513 deputados, com alinhamentos de centro, de direita e de esquerda. Sem o PSB, restam 162 deputados.

O pedido de saída do blocão foi assinado pelo novo líder do PSB, deputado Gervásio Maia (PB), em um ofício enviado a Lira e apoiado pela maioria da bancada. 

A legenda perdeu espaço no governo com a saída de Flávio Dino na Justiça e Segurança Pública, mas ainda abriga o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin; e o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França. 

Há ainda no "blocão" partidos que têm com Lula relação mais próxima. É o caso do PDT, sigla que se posiciona mais à esquerda e tem o comando do Ministério da Previdência Social com Carlos Lupi. Outras siglas, apesar de ocuparem cargos no governo, compõem o chamado “Centrão” e se aliaram a Lira.

É o caso do PP (André Fufuca é ministro do Esporte) e do Republicanos (Silvio Costa Filho é ministro de Portos e Aeroportos), que assumiram pastas em uma negociação por apoio político a Lula. Apesar de não deixarem o presidente da Câmara, a tendência é que esses partidos evitem atritos públicos e se mantenham no jogo.

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