Detentor de pouco mais de um quarto de todos os títulos de eleitor válidos em Belo Horizonte, o eleitorado jovem está na mira dos partidos políticos que pretendem conquistar a cadeira de chefe do Executivo municipal em 2024. A menos de dez meses das eleições para prefeito, boa parte das legendas que almejam eleger um candidato próprio ou firmar alianças para a ocupação do posto já desenha estratégias para atrair o voto da juventude, considerado peça-chave em uma disputa com grandes chances de caminhar para a polarização. Para ter uma ideia, em BH, 557.372 eleitores têm entre 16 e 34 anos. Para especialistas, o fato de não ter preferências políticas tão cristalizadas torna o eleitor jovem ainda mais valioso do ponto de vista estratégico.
Embora, em linhas gerais, as legendas defendam que todo votante é precioso, oito entre 12 lideranças partidárias ouvidas por O TEMPO citaram o público jovem ao serem questionadas sobre o perfil de eleitor de Belo Horizonte que o partido pretende conquistar em 2024.
Foram procurados representantes dos 14 partidos que tiveram um possível pré-candidato citado por eleitores na pesquisa estimulada do DATATEMPO, divulgada em setembro, mas dois não haviam se manifestado até o fechamento desta edição.
Ainda sem definição quanto ao nome que será lançado como pré-candidato, o PSDB, por exemplo, está entre os que admitem a necessidade de cativar a juventude. Segundo o deputado federal e presidente do partido em Minas, Paulo Abi-Ackel, o desafio é fazer com que esse público conheça o legado da gestão tucana na capital. “O belo-horizontino sabe que todas as grandes obras feitas em BH nas últimas décadas foram fruto dos períodos em que o PSDB governou o Estado ou a capital. O mais importante é dar conhecimento desses fatos ao eleitor mais jovem, que não lembra ou não sabe como era a cidade antes dessas obras”, salienta.
Provável pré-candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD) também terá pela frente o desafio de se tornar mais conhecido entre a juventude. Dados da pesquisa DATATEMPO, divulgada em setembro, apontaram que 88,2% dos entrevistados com idades entre 16 e 24 anos e 80,8% daqueles com 25 a 34 anos nem sequer sabiam quem é o prefeito da capital.
Apesar disso, o deputado estadual e presidente da legenda em Minas, Cássio Soares, prefere não fazer distinção entre os eleitores. “Temos como princípio que a boa política deve ser feita para toda a população”, defende.
No caso do PT – que não conquista a Prefeitura de BH desde 2005, quando Fernando Pimentel foi reeleito –, atrair o voto de jovens não está no topo de prioridades da legenda, mas não deixa de ser uma meta para o pleito. “São novas gerações, novas pessoas participando da política”, ressalta o presidente do PT em BH, Guima Jardim, que prefere citar o legado do partido como um possível mobilizador de votos a favor do pré-candidato Rogério Correia.
Por outro lado, o presidente de honra do PL em Minas, José Santana, ressalta que o partido já compreendeu, há algum tempo, a necessidade de cativar o jovem, e diz que a atuação de figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira e o deputado estadual e pré-candidato à PBH Bruno Engler contribui para fidelizar o eleitor. Ainda assim, Santana reforça que o partido se articula para alcançar outros públicos, principalmente entre a classe trabalhadora.
Outros grupos também são alvo
Embora esteja entre as prioridades, atrair o voto da juventude está longe de ser a única meta dos partidos que pleiteiam a cadeira de prefeito da capital mineira. O PDT, por exemplo – que tem a deputada federal Duda Salabert como pré-candidata – pretende direcionar a campanha para jovens em busca de emprego, mas também vai “buscar a votação da mãe solo, que é trabalhadora e luta para cuidar dos filhos com dificuldade”, cita o presidente estadual da legenda, Mario Heringer.
Já o presidente estadual do Republicanos, Euclydes Pettersen, afirma que o partido “tem foco no interesse coletivo”, mas pontua que pretende atrair mais jovens e mulheres não só para compor o eleitorado, como também para concorrer a cargos eletivos.
O PSOL, por sua vez, deve empenhar esforços principalmente entre os grupos minoritários e na periferia para atrair votos para a pré-candidata Bella Gonçalves. “Queremos alcançar a cidade além do asfalto”, ressalta a presidente do PSOL em BH, Jozeli Rosa.
Já no caso do Novo, há objetivo de ampliar a votação de idosos e da população economicamente ativa, seja profissional liberal, assalariado ou empreendedor. “Não estou falando de grandes empresários. É aquela pessoa que tem um, dois funcionários, precisa fazer a empresa dele crescer”, comenta o presidente do Novo em BH, Fred Papatella.
O deputado e presidente do Cidadania-MG, João Vitor Xavier, disse que “todo eleitor é muito bem-vindo” e que o partido buscará dialogo com lideranças comunitárias e de segmentos da saúde, trabalho, terceira idade, assistência social, entre outros. Já o presidente do PSB-MG, Noraldino Junior, defendeu o “alinhamento com todos os perfis de eleitores”.
“População mais aberta à persuasão”
Ainda que represente apenas 27,8% do total de votantes em BH, o público jovem tem valor estratégico para os partidos na medida em que essa população “pode estar mais aberta à persuasão”, avalia a cientista política Marta Mendes, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Política Local da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Marta lembra que os votos e a militância da juventude foram essenciais para garantir, por exemplo, a vitória de Javier Milei, eleito presidente da Argentina. Segundo ela, pautas voltadas para as “dores” da juventude, como desemprego, adoecimento mental e incertezas sobre o futuro, podem atrair e fidelizar esse eleitorado.
A cientista política ressalta ser preciso vencer a desconfiança dos jovens em relação à política: “As pesquisas mostram que eles podem se mobilizar politicamente quando provocados”.