BRASÍLIA - Um dia após o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir manter a taxa de juros em 10,5%, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a decisão do Banco Central (BC) nesta quinta-feira (20). O petista e o Palácio do Planalto esperavam uma redução da Selic, que não ocorreu.
Lula disse que é “uma pena” e que quem sai perdendo com a decisão do Copom é o povo brasileiro. Em seguida, ele voltou a questionar a independência da autoridade monetária e a se referir a Roberto Campos Neto, presidente do BC, como “esse rapaz”.
“Foi uma pena que o Copom manteve [a taxa de juros], porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro. Quanto mais a gente pagar juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro. Isso tem que ser tratado como gasto", declarou em entrevista à Rádio Verdinha, de Fortaleza (CE).
A decisão do Copom marcou o fim de um ciclo de cortes na Selic iniciado em agosto de 2023, após sete reduções consecutivas. Todos os diretores do colegiado votaram de forma unânime, o que demonstra que os indicados pelo governo Lula decidiram pela interrupção da série de cortes.
Agentes de mercado chegaram a projetar a estagnação do patamar em 10,5%, prevendo retomada de cortes na Selic somente em 2025. No entanto, o Palácio do Planalto e a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinham expectativa de redução na inflação oficial.
Autonomia do Banco Central
Diferentemente do que fez no início da semana, ao endurecer as críticas a Roberto Campos Neto e questionar se o presidente do BC tem lado político, na entrevista desta quinta-feira, Lula se referiu ao chefe da autoridade monetária apenas como “esse rapaz”.
“O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom e do Banco Central. O [Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje”, declarou. “Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?”, questionou o presidente Lula.
Em seguida, o petista lembrou que teve reunião com a Junta Orçamentária na última segunda-feira (17), quando teve conhecimento sobre os valores do déficit fiscal e queda de arrecadação como incentivos tributários.
“Foram R$719 bilhões de juros no ano passado que a gente pagou. Só em desoneração foram R$ 536 bilhões que a gente deixou de receber. (...) Por que não se transforma em gasto a taxa de juros que nós pagamos?”, indagou.
Na avalição de governistas, a taxa de juros encarece o crédito no mercado, congela investimentos e trava o desenvolvimento econômico.
Greves das universidades
Durante a entrevista à emissora de rádio de Fortaleza, o presidente Lula comentou a greve das universidades e institutos federais que já dura cerca de três meses. O petista lembrou que, em 2023, o governo antecipou 9% de aumento à categoria que cobra mais 4,5% para este ano.
No entanto, o presidente ressaltou que para 2024 será difícil chegar ao percentual contemplado pelos grevistas. Em seguida, ele mostrou insatisfação com a permanência das paralisações.
“Apresentamos um pacote e demos 9% antecipado ano passado. Eu, às vezes, fico triste porque ninguém agradeceu pelos 9% e estão fazendo uma greve dizendo que é por 4,5%, que nós não demos nada esse ano. Se a gente não deu porque a gente não pode dar, isso não significa que a gente não possa nos anos seguintes dar mais do que os 4,5%", afirmou.