BRASÍLIA - Durante a cerimônia de entrega de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Salto, interior de São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro na área da saúde, dizendo que ele foi irresponsável e brincou com a saúde do povo brasileiro. Na ocasião, Lula aproveitou para alfinetar a ausência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apadrinhado político de Bolsonaro, no evento ocorrido na manhã desta quinta-feira (4).
“Eu não tenho que perguntar se o governador gosta ou não gosta de mim. Eu não quero casar com o governador. Eu quero governar esse país. E é por isso que eu venho. É uma pena porque o governador poderia vir com a gente, mas ele não vai em nenhum lugar que eu convido", disse Lula. O presidente ainda adiantou que Tarcísio também não compareceria na próxima agenda presidencial em Campinas (SP) porque as obras foram pagas com investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal.
“Ele está convidado para vir, mas ele não vem porque ele diz: 'O dinheiro é do BNDES, não é do Lula. Eu tomei emprestado e eu vou pagar'. O que ele tem que saber? É que o BNDES empresta dinheiro para governador no meu governo, porque no governo deles não emprestava um centavo", completou. O nome de Tarcísio é ventilado para concorrer à Presidência da República em 2026, uma vez que Bolsonaro está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Covid e Cloroquina
Durante a cerimônia de entrega de 280 ambulâncias para renovação da frota do Samu, Lula lembrou da pandemia da Covid-19 e aproveitou para criticar a gestão de Bolsonaro, mesmo sem citá-lo nominalmente - prática que tem sido adotada por ele nos últimos meses e que cresceu nas últimas semanas em virtude da polarização das eleições municipais. Segundo o presidente, não houve investimento para renovação da frota de ambulâncias do Samu nos últimos anos e o governo de Bolsonaro foi irresponsável.
“O problema desse país é que muitas vezes ele foi governado por gente que tinha pouca massa encefálica na cabeça e não pensava corretamente sobre o futuro do seu país. Como é que você pode imaginar ficar dez anos sem renovar a frota do Samu? Porque uma ambulância tem que estar bem de manutenção, ela tem que estar boa, a hora que ligou o motor ela tem que pegar”, disse Lula. “Então nós resolvemos, depois de um longo e tenebroso inverno, renovar outra vez a frota do Samu”, emendou.
O presidente da República também criticou a condução da pandemia de covid-19 pelo seu antecessor. Sem citar nomes, disse que pelo menos metade das mais de 700 mil mortes causadas pela doença no Brasil tem um responsável e que o ex-presidente negligenciou a importância da vacina e até defendeu o uso de medicamentos não recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como a Cloroquina.
“Aí veio a Covid, no momento em que a gente tinha um governante irresponsável, que brincou com a saúde do povo brasileiro”, afirmou Lula.
“É verdade que nós perdemos mais de 700 mil pessoas, é verdade que tem gente que tem responsabilidade pelo menos pela metade, porque eu nunca vi na história da sociedade brasileira alguém inventar remédio sem a anuência dos médicos. Eu nunca vi alguém inventar remédio para malária para cuidar da Covid, mas nesse país se inventou tudo e se contou tudo que é mentira, graças a Deus prevaleceu a verdade e o SUS”, prosseguiu o presidente.
Cartão de vacina
Nesta quinta-feira, o ex-prefeito de Duque de Caxias (RJ) e atual secretário de Transportes do Rio de Janeiro, Washington Reis (MDB), foi alvo da nova fase da Operação Venire, da Polícia Federal que apura fraudes na inserção de dados falsos de vacinação da Covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde. Um dos beneficiados teria sido o ex-presidente Jair Bolsonaro (PF), que já foi indiciado em outra fase da investigação.
A operação foi deflagrada em março deste ano e apontou que servidores públicos do município ajudaram a registrar dados falsos de vacinação de Bolsonaro, de seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, além de familiares de ambos e de seguranças da família do ex-presidente. Na ocasião, eles viajariam aos Estados Unidos, onde seria exigida a comprovação de vacina contra a doença. Bolsonaro e Cid, assim como seus assistentes, eram contra a imunização.