BRASÍLIA – Sem nunca ter sido candidato em uma eleição, ocupado cargo público ou mesmo estar filiado a partido político, o cantor Gusttavo Lima se coloca como postulante à presidente da República em 2026. Pesquisa da Genial/Quaest divulgada na última segunda-feira (3) o colocou como o nome mais competitivo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um eventual segundo turno na disputa ao Palácio do Planalto. Mas o petista ganharia do sertanejo nas urnas.
Gusttavo Lima usou as redes sociais para comentar a pesquisa. Ele falou em “sonho”. Assim como o cantor, que tem uma das mais caras e concorridas agendas de shows no momento, outros famosos sonharam em ser presidente do Brasil, apostando no carisma e na visibilidade que tinham nos meios de comunicação. Alguns sequer conseguiram viabilizar a candidatura. Outros abandonaram a ideia antes mesmo do início da campanha.
Sílvio Santos chegou a concorrer em 1989
Apresentador de TV e dono do SBT, Sílvio Santos decidiu concorrer à Presidência da República em 1989. Após tentar se encaixar em vários partidos, ele conseguiu se inscrever na disputa pelo nanico Partido Municipalista Brasileiro (PMB).
O apresentador entrou na corrida eleitoral quando o PMB já tinha um candidato, Armando Correia, que retirou seu nome para abrir espaço para Silvio Santos, com Marcondes Gadelha como vice. Mas a candidatura foi barrada por questões legais.
A candidatura de Silvio enfrentou 18 pedidos de impugnação à Justiça Eleitoral. O PMB não havia cumprido exigências legais, como a realização de convenções regionais e municipais necessárias para obter o registro definitivo.
Ainda, a Procuradoria-Geral Eleitoral apontou que Silvio Santos não poderia concorrer porque eram inelegíveis candidatos a presidente e vice-presidente que tivessem exercido, nos seis meses anteriores ao pleito, cargos em empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público – o que incluía canal de televisão.
Sílvio Santos morreu em agosto de 2024, aos 93 anos.
Luciano Huck já foi cogitado duas vezes
Hoje com 53 anos, o apresentador de TV Luciano Huck foi cogitado como candidato a presidente em 2018. Após pesquisas de intenção de voto darem a ele entre 3% e 5%, em cenários sem Lula, então impedido de concorrer devido à condenação na Lava-Jato, Huck desistiu da ideia, rechaçada inclusive pela esposa, Angélica.
Em 2022, Huck sinalizou novamente que poderia concorrer à Presidência da República, deixando a Rede Globo. Em nota, a emissora carioca declarou que não impediria a candidatura, mas que em caso de saída do apresentador ele não seria readmitido. A candidatura, novamente, não se concretizou.
Huck participa do movimento liberal de renovação política Agora!, tendo como “guru” político o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 2023, em entrevista ao podcast PodPah, o apresentador do programa “Domingão” disse não ter “medo” do cargo de presidente.
“Eu não tenho medo disso, não, do fundo do meu coração, mas eu não tenho essa vaidade. Não tenho essa vaidade. Todo mundo que quis na vida, nunca foi. Isso é destino. Então, o que sei é que não saí do debate. A fumaça não volta para dentro da garrafa, entendeu?”, afirmou. Em outras entrevistas, ele não descartou disputar a presidência em 2026.
Datena quis se lançar pelo PSL, que elegeu Bolsonaro
Em julho de 2021, o apresentador José Luiz Datena afirmou, durante seu programa na Rádio Bandeirantes, que era pré-candidato à Presidência da República na eleição de 2022 pelo PSL, partido ao qual havia se filiado uma semana antes.
Datena já havia se filiado a outros partidos para disputar eleições, mas acabou desistindo. Dessa vez, disse que a confirmação da candidatura dependeria de seu desempenho nas pesquisas eleitorais.
O PSL era o partido pelo qual Jair Bolsonaro havia sido eleito presidente em 2018. Em 2021, quando Datena anunciou o desejo de concorrer ao Palácio do Planalto, o presidente estava sem partido – depois se filiou ao PL, pelo qual concorreu em 2022.
Depois, já filiado ao PSC, Datena se colocou como pré-candidato ao Senado por São Paulo, mas desistiu. Era a quarta vez que o apresentador veiculava seu nome como postulante a cargo político, mas acabava desistindo.
Em 2024, ele concorreu à Prefeitura de São Paulo, mas não chegou ao segundo turno. E garantiu que vai abandonar a política.
Veja cantores que naufragaram ao concorreram a outros cargos
Além da Presidência da República, outros famosos de diferentes áreas concorreram a cargos públicos e não conseguiram ser eleitos. Alguns tiveram baixa votação, apesar do sucesso em suas áreas.
São muitos os casos em Goiás, por exemplo, onde Gusttavo Lima hoje mora e tem como grande padrinho político o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que também deseja concorrer à presidência em 2026.
Em 2010, o também cantor sertanejo Renner, da dupla com Rick, perdeu a eleição para senador. Filiado ao PP, ele entrou na chapa do então candidato a governador Vanderlan Cardoso, que acabaria derrotado nas urnas.
Renner desistiu da candidatura pouco antes do dia da votação, mas ainda teve mais de 70 mil votos. Nas eleições de 2018, ele tentou novamente, desta vez para o cargo de deputado federal. Mais uma vez, ele não conseguiu se eleger.
Outro sertanejo, José Rico, da dupla com Milionário, também foi candidato a deputado federal, mas em 2014 e pelo PMDB. Na disputa por uma das cadeiras destinadas ao Estado de Goiás, ele teve 26.086 votos e não foi eleito. José Rico morreu em 2015.
Ainda em 2024, a cantora sertaneja Sula Miranda também disputou uma cadeira na Câmara Federal, mas por São Paulo. Com menos de 3.795 votos, não ficou perto nem de uma suplência.
Já o cantor de axé-music Netinho, do hit “Milla”, foi candidato a deputado federal pelo PL, na Bahia, em 2022. Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, ele recebeu 31.448 votos e também não conseguiu se eleger.