BRASÍLIA – A primeira-dama, Janja da Silva, saiu em defesa da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, nesta quinta-feira (20), após o senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmar que teve vontade de enforcá-la. Janja disse que o parlamentar fala “asneiras” e que é esse tipo de comportamento masculino que mata as mulheres diariamente. 

“Uma mulher gigante, que um homem com a ignorância do senador Plínio Valério jamais vai conseguir enxergar. Sua fala carregada de ódio, misoginia e de um desconhecimento sem tamanho é um reflexo de sua pequenez. É esse comportamento masculino que mata nossas mulheres diariamente”, escreveu em seu perfil no Instagram. 

A declaração de Plínio ocorreu na última sexta-feira (14) durante evento da Fecomércio no Amazonas. Ele comentava sobre a participação da ministra na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou, em 2023, a atuação de ONGs na Amazônia: “A Marina esteve na CPI das ONGs por 6h10. Imagine o que é tolerar a Marina por seis horas sem enforcá-la”.

Além de defender Marina e prestar solidariedade, a primeira-dama disse que o político falou “asneiras”. “Se para ele é difícil ouvir uma mulher tão inteligente falar durante seis horas, para nós é de doer ouvir seis segundos de asneiras vindo de sua boca. Toda minha solidariedade, afeto e admiração à minha querida amiga e Ministra Marina Silva. Você é gigante e não está sozinha”.

Janja ainda elogiou a trajetória de Marina Silva pela defesa do meio-ambiente. “A ministra é uma dádiva que o nosso país tem o privilégio de ter. Uma mulher pioneira na defesa do meio-ambiente e na luta por um mundo mais justo e sustentável. Tem uma história de vida e de trabalho que inspira pessoas ao redor do mundo há décadas”.

Resposta de Marina Silva 

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reagiu à fala pública do senador em entrevista ao programa Bom Dia, Ministra, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na última quarta-feira (19). Segundo ela, “só os psicopatas” têm fala semelhante, ainda que em tom de brincadeira.

“Com a vida dos outros não se brinca. Quem brinca com a vida dos outros, ou faz ameaças aos outros de brincadeira e rindo, só os psicopatas são capazes de fazer isso”, declarou a ministra. 

“Eu fico imaginando alguém que é ministra do Meio Ambiente, alguém que de certa forma é conhecida dentro e fora do país, ter que ouvir uma coisa dessa de alguém incitando a violência por discordar de alguém. Porque isso é uma forma de incitar a violência contra uma mulher. Dificilmente, talvez, isso fosse dito se o debate fosse com um homem”, disse.  

Indisposição no plenário do Senado

A declaração de Plínio Valério também gerou indisposição no plenário do Senado Federal. O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (PSD-AM), reagiu à posição do colega com uma bronca no início da sessão de quarta-feira.

“O senador não poderia, em um evento, dizer que acompanhou uma audiência pública de uma ministra de Estado por seis horas e que não sabia onde estava que não a enforcou”, disparou. “Fui cobrado hoje e precisava fazer essa manifestação. Acho que meu querido colega precisa até mesmo se justificar”, acrescentou.

A cobrança de Alcolumbre reverberou no plenário, e o senador amazonense reagiu à declaração rebatendo o presidente do Congresso e acentuando o clima ruim no Senado. Contestando as críticas que o taxaram de “machista”, Valério contra-atacou e disse que a posição de Alcolumbre “pegou mal para cac…”.

“Vi com tristeza o senhor se manifestando sobre o episódio sem conversar comigo primeiro”, pontuou. “A ministra foi à CPI das ONGs no ano passado, e durante 6h10 a tratei com educação por ser mulher, por ser ministra, por ser negra, por ser frágil… Foi tratada com delicadeza. Ela sabe bem disso”, começou.

“Milhares de amazonenses morreram na pandemia porque não chegou oxigênio pela BR-319. Pelas tantas, na sessão, ela disse que não liberaria a estrada”, explicou. “Depois, fui receber uma medalha, e na brincadeira disse: 'imagina o ficar com a Marina por 6h10 sem ter vontade de enforcá-la. Todo mundo riu. Eu ri. Eu faria de novo? Não. Mas, não me arrependo”, concluiu Plínio.