BRASÍLIA — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) repetiu as críticas corriqueiras à política econômica do presidente norte-americano Donald Trump principalmente em relação ao tarifaço contra a China. Na chegada ao Palácio do Itamaraty nesta terça-feira, onde almoça com o presidente do Chile, Gabriel Boric, Lula defendeu que é necessário insistir em um processo de negociação para pacificar as relações entre Estados Unidos, China e os outros países que mantêm diálogos comerciais com as duas nações.
“A gente não pode desistir, precisamos acreditar que somente o multilateralismo pode trazer um equilíbrio na relação comercial e na relação política”, avaliou. “A nós, brasileiros, não agrada essa disputa estabelecida pelo presidente [Donald] Trump. Ela não é conveniente para os Estados Unidos, não é conveniente para a China e não é conveniente para nenhum país no mundo”, completou.
Lula também transportou as críticas para o campo das políticas sociais norte-americanas, atacando o tratamento que o governo Trump tem dado aos imigrantes. “Queremos estabelecer uma política de cordialidade comercial, que a gente possa respeitar os direitos humanos, que a gente possa tratar os migrantes com o respeito que eles merecem. O mundo precisa voltar a uma certa normalidade”, analisou.
Citando a morte do Papa Francisco, o presidente brasileiro ainda disse que é hora do mundo combater o ódio, a raiva e a perseguição. “Não tem lógica, sabe? Espero que a morte do Papa Francisco possa ser um sinal de que os seres humanos precisam mudar para melhor”, sugeriu.
Encontro com presidente do Chile antecede viagem de Lula para velório do Papa
O presidente Lula recebeu Gabriel Boric, presidente do Chile, nesta terça-feira em Brasília. O petista defendeu, após o encontro, a importância de acordos que sustentem as relações econômicas e políticas entre Brasil e Chile independente dos ocupantes das presidências dos dois países.
“Temos que pensar: como vai ser o Brasil depois que eu for presidente? Como vai ser o Brasil se a extrema-direita entrar aqui? E se entrar a extrema-direita no Chile? Por isso temos que defender a democracia, o multilateralismo e o livre-comércio”, declarou o presidente brasileiro após reunião com Boric. “O burocrata é eterno. O mandato presidencial termina. Então, entra outro presidente no Chile e a gente não sabe se essa pessoa vai ter uma boa relação com o Brasil e vice-versa. Por isso é importante que a gente discuta essa necessidade de integração”, completou o petista.
O encontro bilateral ocorrido nesta manhã resultou nas assinaturas de 19 acordos e memorandos entre os países. A conclusão do Corredor Rodoviário Bioceânico para ampliar a integração logística e comercial entre Brasil e Chile é um dos assuntos discutidos na reunião privada entre os presidentes — e com a presença de ministros de Estado brasileiros; entre os presentes estiveram os ministros de Meio Ambiente, Marina Silva, de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Críticas às políticas de Trump nos Estados Unidos atravessam encontro de Boric e Lula
Após a reunião, o presidente Lula repetiu as críticas que têm feito às políticas econômicas e sociais adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O petista, contudo, ponderou que o Brasil não quer ser obrigado a escolher entre Estados Unidos e China, mas pretende manter relações com as duas potências.
“Os latino-americanos viraram todos inimigos. 'Vão embora porque os Estados Unidos são dos Estados Unidos', mas, os latino-americanos não ajudaram a construir [os Estados Unidos]?”, perguntou. “Eu não quero uma guerra fria. Quero ter relações com os Estados Unidos e a China. Não quero ter preferência. Quem tem que ter preferência são os empresários...”, completou.
Boric também adota um discurso parecido com o do presidente Lula e disse que o Chile é contrário à guerra comercial entre as potências mundiais. “O Chile está contra a politização arbitrária do comércio e defendemos com muita força nossa autonomia, tendo relações com diferentes países e regiões”, disse.