BRASÍLIA – Assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim disse nesta segunda-feira (23) que já há uma guerra total no Oriente Médio, com iminente crescimento após ataque dos Estados Unidos a instalações nucleares iranianas no sábado (21).
“Não é mais uma guerra na Palestina ou em Gaza. É uma guerra que abrange todo o Oriente Médio e, inevitavelmente, vai acabar envolvendo outros países”, afirmou Amorim, em entrevista à GloboNews.
Para ele, os conflitos na região devem atrair a Rússia e intensificar a guerra na Ucrânia. “Isso [o conflito no Oriente Médio] dá à Rússia a ocasião de agir de maneira mais incisiva no outro front [na Ucrânia]”, disse.
O diplomata apontou a violação do direito internacional no ataque dos EUA ao Irã. Lembrou que Carta das Nações Unidas (ONU) não prevê autodefesa preventiva.
“Isso não existe na Carta da ONU. Porque, senão, não teria fim”, ressaltou Amorim, alertando para o perigoso precedente. Ele fez um apelo à diplomacia e ao respeito aos marcos legais internacionais.
“A ordem mundial acabou”, lamentou. “Tudo que os Estados Unidos fizeram ao fim da Segunda Guerra [para regular as relações entre as nações] está sendo demolido”, completou.
Em nota publicada no domingo (22), o Itamaraty classificou os ataques recentes de Israel e dos EUA contra as instalações nucleares iranianas como uma “violação da soberania” do Irã e do direito internacional.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirmou que os ataques “representam uma grave ameaça à vida e à saúde de populações civis, ao expô-las ao risco de contaminação radioativa e a desastres ambientais de larga escala”.
O Itamaraty afirmou que a posição histórica do Brasil é de que a energia nuclear deve ser usada “somente para fins pacíficos” e “rejeita com firmeza qualquer forma de proliferação nuclear, especialmente em regiões marcadas por instabilidade geopolítica, como o Oriente Médio”.
Os ataques à usina iraniana foram motivados por acusações dos EUA e de Israel de que o governo iraniano estaria desenvolvendo secretamente armas nucleares.
A campanha de ataque ao Irã começou após um relatório da ONU identificar níveis elevados de enriquecimento de urânio nas instalações nucleares iranianas.
O país persa afirma, por sua vez, que não viola os acordos internacionais e que se trata de uma tentativa das forças israelenses e norte-americanas de derrubar o regime Khamenei.