BRASÍLIA - A Intelis, associação dos servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), decidiu nesta terça-feira (24) entrar com uma ação na Justiça para pedir o afastamento das pessoas acusadas de obstrução de justiça no inquérito que investiga a chamada ‘Abin paralela’, entre eles, o diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa, indiciado pela Polícia Federal.

Em assembleia nesta terça-feira, os servidores aprovaram também o indicativo de greve da categoria, em resposta à crise institucional enfrentada pelo órgão.

“É hora de dar um basta. Não há mais o que esperar. É nossa obrigação defender a instituição a qualquer custo”, relata trecho da nota divulgada pela Intelis.

A Polícia Federal indiciou na terça-feira (17) 36 pessoas no inquérito que apura o suposto uso ilegal de ferramentas na Abin para investigar autoridades. A estrutura montada incluiu a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país.   

“É inadmissível que indivíduos sobre quem pesam acusações graves de obstrução de justiça continuem ocupando cargos de comando na Abin. O próprio Diretor-Geral afastou de cargos servidores orgânicos que eram apenas citados nas investigações. Pela mesma lógica, não pode ele próprio se manter no cargo máximo da Agência, com poderes para seguir incorrendo nos alegados crimes”, afirmou nota divulgada por ocasião do indiciamento. 

PF indiciou cúpula da Abin 

A PF identificou indícios de que o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Côrrea, sabia das operações de espionagem ilegal e agiu para atrapalhar a investigação. A informação consta no inquérito, cujo sigilo caiu na quarta-feira (18) por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Côrrea é enquadrado pelos crimes de prevaricação, impedir ou embaraçar investigação sobre organização criminosa e coação. Também foram indiciados Luiz Carlos Nóbrega, chefe de gabinete de Corrêa, e o corregedor-geral José Fernando Chuy.  

Todos eles são delegados de carreira da Polícia Federal nomeados ao cargo no governo Lula. Até o momento, a Abin não comentou. Procurado, o Palácio do Planalto também não se manifestou sobre o assunto.  

“É absurdo sequer cogitar a permanência da atual direção e a continuidade do processo de definhamento e desmonte da Inteligência de Estado”, destacam os servidores da Abin.

Entre os indiciados pela PF, ainda estão o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem, atual deputado federal, e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL).  

A Polícia Federal apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era o principal beneficiário das ações realizadas pela chamada "Abin Paralela". De acordo com o relatório divulgado nesta quarta-feira (18), Bolsonaro era integrante do "núcleo político" da organização, ao lado de seu filho Carlos Bolsonaro.