BRASÍLIA - A Polícia Federal apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era o principal beneficiários das ações realizadas pela chamada "Abin Paralela". De acordo com o relatório divulgado nesta quarta-feira (18), Bolsonaro era integrante do "núcleo político" da organização, ao lado de seu filho Carlos Bolsonaro (PL), vereador do Rio de Janeiro.
"Este núcleo era o responsável por definir as diretrizes estratégicas da organização criminosa e destinatários principais das vantagens perseguidas pelo coletivo delituoso", diz trecho do documento, que teve o sigilo retirado nesta quarta-feira por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A investigação cita reuniões ministeriais e lives de Bolsonaro, em que ele apresenta informações obtidas por meio da suposta estrutura clandestina de inteligência do governo anterior.
"O ataque ao sistema eleitoral, também, contou com o produto da
estrutura paralela, por exemplo, no uso de imagens de drones para fins políticos partidários por exemplo para defesa do voto impresso. Não somente de drones, mas, também, de câmeras instaladas em todos os ministérios", afirma o documento.
"As campanhas de desinformação direcionadas contra o sistema
eleitoral foram produzidas com recursos humanos, técnicos e financeiros da Abin. A “live” realizada por Jair Bolsonaro em que consta informações de inquérito da Polícia Federal obtido sob a justificativa de ser utilizado em comissão do parlamento federal foi fruto de ação iniciada na ABIN", continua o texto.
Na terça-feira (17), Carlos Bolsonaro e o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) foram indiciados pela Polícia Federal. O nome de Jair Bolsonaro não constou da lista dos 36 indiciados, apesar de ser apontado no relatório como "principal beneficiário" da estrutura da Abin Paralela.
A PF alega que o ex-presidente já foi indiciado em outro inquérito sob suspeita de organização criminosa, não podendo ser alvo novamente de imputação por esse delito.
De acordo com as investigações, a estrutura clandestina "utilizou assessores nomeados em cargos públicos e recursos estatais para produzir e disseminar sistematicamente narrativas falsas e ataques contra instituições (como o Sistema Eleitoral Brasileiro e o Poder Judiciário), opositores políticos e quaisquer indivíduos ou grupos que contrariassem os interesses dos grupos políticos no poder".
No relatório, a PF diz também que o inquérito revela a participação ativa e o domínio funcional de integrantes do núcleo político "nas atividades criminosas investigadas, contribuindo para os objetivos da organização, incluindo a abolição do Estado democrático de direito".
Ao todo, 36 pessoas foram indiciadas no inquérito que apura suposto esquema de espionagem ilegal durante o governo Jair Bolsonaro. Na lista estão ainda nomes que integram a atual gestão da agência, nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como os delegados Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega e o corregedor-geral José Fernando Chuy.