Pirenópolis (GO) – Em dias de folga, os brasilienses costumam buscar o sossego em Pirenópolis (GO), a cerca de 130 km da capital federal. Mas há ainda mais tranquilidade em uma vila da cidade histórica.
Esse lugar é Lagolândia, que, a 25 km de Pirenópolis, um dia foi município mas perdeu o status e viu a sua população decrescer por causa da migração para os grandes centros em função da falta de emprego.
Com pouco mais de 500 habitantes, Lagolândia conserva casas centenárias, natureza selvagem e uma das mais intrigantes histórias de fé e messianismo do país.
Histórias protagonizadas por uma mulher conhecida como Santa Dica. Seu corpo está enterrado na única praça do lugar. No espaço há um busto dela, entre bancos, flores e imagens de Nossa Senhora.
Benedita Cipriano Gomes, a Santa Dica, morreu em 9 de novembro de 1970, em Goiânia, e foi sepultada, conforme seu desejo, debaixo de uma gameleira em frente à sua casa em Lagolândia.
A escola municipal do povoado leva o nome da “santa”, que, além de pregar a igualdade entre todos, com compartilhamento de tudo o que a comunidade produzia, liderou um movimento messiânico.
Casa onde Dica morava e recebia fiéis, com foto dela na parede: fiel ornamenta espaço para uma das festas religiosas criadas pela “santa”. Foto: Renato Alves/O TEMPO
Povoado conserva casario centenário
Até pouco tempo, sequer havia sinal de celular no povoado. A comunicação com outras localidades era feita apenas pelos antigos telefones fixos e serviços dos Correios, como cartas e telegramas.
Hoje ainda não há sinal de dados para celular. A internet só é acessada nos lares e em alguns poucos comércios, por meio de wifi. Todos cedem o sinal, até para estranhos, visitantes.
“Pouca coisa mudou desde os tempos de Dica, o que é bom, como a segurança e o sossego que temos”, diz Carlos da Mota Bastos, de 52 anos. Neto da “santa”, ele sempre morou em Lagolândia.
Além de um posto dos Correios, atualmente, o povoado conta com um posto de saúde, uma escola — apenas com o ensino fundamental –, meia dúzia de bares e um mercadinho.
Moradora anda pela praça central de Lagolândia. Renato Alves/O TEMPO
Os jovens nascidos ou criados em Lagolândia costumam deixar a terra natal em busca de melhores oportunidades de emprego nas cidades próximas, como Pirenópolis, Anápolis e Goiânia.
Movimento em Lagolândia, só nos fins de semana, por causa dos visitantes. Em sua maioria, moradores de Brasília, Goiânia e Anápolis. Muitos com casa no povoado.
Maria das Dores Camargo mantém uma lojinha de artesanato na sala principal de casa, ao lado da igreja. “A maioria dos turistas que vêm aqui quer saber da história da Dica”, conta.
Cenário de cidade fantasma nos dias de semana
Com a maioria das casas antigas de Lagolândia fechada durante a semana, com seus donos nos locais onde fixaram residência, Lagolândia ganha ares de cidade fantasma.
É difícil encontrar alguém nas poucas ruas do lugar, pois os poucos postos de trabalho ficam em fazendas da região. Cavalos, charretes e bicicletas são mais presentes nas vias de pedras.
Casa enfeitada em Lagolândia para festa criada por Santa Dica. Foto: Renato Alves/O TEMPO
A paz em Lagolândia é constatada também por meio das estatísticas policiais. Até a publicação desta reportagem, fazia quase 20 anos que o distrito não registrava assassinato.
Moradores temiam apenas o crescimento desordenado, por causa do asfaltamento dos sete quilômetros de estrada, na direção à Pirenópolis.
A benfeitora fez explodir os preços dos imóveis antigos do lugarejo. Os casarões localizados em frente à praça dobraram de preço.
Para saber mais sobre a história da Santa Dica:
- Filme: “A República dos Anjos” (1991)
- Livro: “Santa Dica: História e Encantamentos” (2021, Waldetes Aparecida Rezende)