BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vetou o aumento de vagas na Câmara dos Deputados “porque não é disso que o Brasil está precisando”. Ele justificou a decisão, que gerou um impasse com a chamada “Casa do Povo”, durante Encontro Nacional do PT neste domingo (3/8).
"Alguns não queriam que eu vetasse o aumento de deputados na Câmara. Eu vetei porque não é disso que o Brasil está precisando, gente”, disse. “Eu vetei e o Congresso tem direito de derrubar o meu veto. Vamos ver o que que vai acontecer”, completou.
O Congresso Nacional aprovou o aumento de cadeiras na Câmara após uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). A ordem era para que as 513 vagas fossem redistribuídas pela atualização populacional do Censo de 2022. Mas, para não ver o encolhimento de bancadas, parlamentares decidiram criar novos cargos.
Deputados e senadores ainda podem analisar o veto presidencial, e manter ou derrubar a decisão de Lula. A expectativa, porém, é que a redistribuição seja feita pela Justiça Eleitoral entre as 513 cadeiras existentes, sem criar novas vagas de deputados.
“Se tem que mudar para se adequar à pesquisa do IBGE [Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística], dentro dos 513 a gente tem que adequar. Uns estados vão perder e outros vão ganhar. Qual é o problema?”, completou Lula.
Lula cobra PT por estratégia nas eleições
Ainda no evento, Lula cobrou que o PT trace estratégias para ocupar mais cargos no Congresso Nacional nas eleições de 2026. Ele afirmou que é preciso ampliar a bancada no Senado para evitar que a oposição tenha maioria de votos e comentou sobre o cenário na Câmara dos Deputados.
"Nessa eleição, nosso partido só elegeu 70 deputados de 513. É muita diferença. Se nós fôssemos bons como nós pensamos que somos, a gente teria eleito pelo menos uns 140 ou 150. Mas isso não é um defeito só do PT, é de toda a esquerda", declarou.
O presidente também admitiu que não tem votos suficientes para aprovar projetos de seu governo, reforçando que precisa negociar. “Quando eu vou mandar uma medida para o Congresso Nacional, eu tenho que mandar sabendo o meu número de votos que eu tenho lá. E se depender só de nós, a gente não aprova nada. Se depender só daqueles que apoiam a gente, a gente também não aprova nada. A arte da política é que é importante você convencer quem não pensa igual a gente a votar nas coisas que nós mandamos”.
"Muitas vezes na política vocês acham que é derrota, mas a gente aprovar uma política tributária como nós aprovamos, que estava em discussão há 40 anos, em um Congresso totalmente adverso... nós conseguimos a proeza de aprovar essa política tributária. Com muita conversa, cedendo em muitas coisas, mas se não for assim, você não governa”, afirmou.
Na avaliação de Lula, quando um político vence a eleição para ser presidente da República, “tem que cair na real, senão não governa”. “Eu não tenho saber se o presidente da Câmara gosta de mim. Eu tenho que saber que ele é presidente de uma instituição que deu a ele a legalidade de ser eleito, e que, portanto, eu preciso mais dele do que ele de mim. Eu preciso conversar porque ele ocupa um posto importante”, apontou.
Lula também cobrou uma estratégia unificada dentro do PT para as próximas eleições. De acordo com ele, o partido “não pode ter essa divisão que está tendo agora”, com várias tendências sendo seguidas por alas diferentes nos diretórios estaduais. “Essas tendências não são ideológicas, não são políticas, são pessoais. E têm que acabar”, frisou.
Articulação de Gleisi
O presidente ainda rebateu as críticas que recebeu quando nomeou Gleisi Hoffmann para ser ministra das Relações Institucionais no início do ano. O cargo é responsável pela articulação do governo com o Congresso Nacional. Na época, o nome de Gleisi foi questionado pela postura da ministra de subir o tom em divergências.
“Muita gente tinha medo de que a Gleisi assumisse. Quando eu disse que a Gleisi ia ser minha ministra de Relações Institucionais, muita gente achou que eu era louco”, falou. “Eu posso dizer: com apenas poucos meses, a Gleisi será a melhor ministra das Relações Institucionais”, finalizou.