BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, na cúpula virtual do Brics, nesta segunda-feira (8), o que classificou como  uma “chantagem tarifária”, em meio à guerra comercial lançada pelo governo dos Estados Unidos que atinge vários países do bloco.

“A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para a conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”, afirmou Lula, perante seus homólogos chinês, Xi Jinping; russo, Vladimir Putin, e sul-africano, Cyril Ramaphosa, entre outros chefes de Estado.

“Sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos. Cabe ao Brics mostrar que a cooperação supera qualquer forma de rivalidade. [...] O comércio e a integração financeira entre nossos países oferecem opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo”, completou Lula

O encontro não foi transmitido. O Palácio do Planalto divulgou a transcrição do pronunciamento de Lula, atual presidente do Brics – o cargo é rotativo. Conforme o comunicado do Planalto, Lula não mencionou Donald Trump nem os Estados Unidos.

O presidente norte-americano impôs tarifas punitivas a produtos do Brasil, alegando haver uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado, que está sendo julgado por tentativa de golpe de Estado.

Também na reunião virtual do Brics desta segunda-feira, Xi Jinping, instou o bloco do Brics, formado por 11 países, a “resistir a todas as formas de protecionismo”.

“Devemos defender o sistema comercial multilateral com a Organização Mundial do Comércio como núcleo e resistir a todas as formas de protecionismo”, afirmou o líder chinês em seu discurso ao grupo.

“Independentemente de como a situação internacional mude, devemos permanecer firmes na promoção da construção de uma economia global aberta, compartilhando oportunidades e obtendo resultados benéficos para todos através da abertura”, acrescentou Xi.

Petista também critica mobilização militar dos EUA no Caribe

Lula convocou esta reunião virtual para debater a defesa do multilateralismo. Na ocasião, ele também criticou a mobilização militar dos Estados Unidos no mar do Caribe.

“A presença de forças armadas da maior potência do mundo no mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”, disse Lula na abertura da videoconferência. 

Em meio às tensões com a Venezuela, a Marinha dos EUA enviou vários navios para o mar do Caribe sob o argumento de combater o tráfico internacional de drogas.

Trump acusa o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar uma rede de tráfico de drogas e recentemente aumentou a recompensa por sua captura para 50 milhões de dólares (cerca de R$ 270 milhões).

Há uma semana, Trump disse ter destruído um barco supostamente pertencente ao grupo criminoso venezuelano Tren de Aragua, que transportava drogas da Venezuela. “Onze terroristas morreram”, segundo ele.

Já Maduro denunciou a presença militar norte-americana como a maior ameaça ao continente “nos últimos 100 anos”. A Colômbia considerou o envio de tropas “desproporcional”.

Os líderes do Brics participaram, nesta segunda-feira, de uma reunião virtual convocada por Lula para discutir a “defesa do multilateralismo”, segundo o governo brasileiro. (Com AFP)