ESCÂNDALO DE ESPIONAGEM

'A gente nunca está seguro', afirma Lula sobre atual composição da Abin

O petista disse ainda que se houver provas, “não há clima para a permanência do número dois da Agência no cargo

Por O TEMPO Brasília
Publicado em 30 de janeiro de 2024 | 09:43
 
 
 
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (30) que "a gente nunca está seguro" ao ser questionado se tem "segurança" na composição da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) atual. O petista deu a declaração em entrevista à CBN Recife. 

O petista disse ainda que “não há clima” para a permanência do número dois no órgão, caso fique comprovado que o atual diretor adjunto Abin, Alessandro Moretti, favoreceu investigados pela Polícia Federal e manteve relações com o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

A Polícia Federal deflagrou na quinta-feira (25) a Operação Vigilância Aproximada para investigar a chamada “Abin paralela”. De acordo com a corporação, uma organização criminosa se instalou dentro do órgão de inteligência do governo federal durante a gestão do ex-diretor geral da Abin - o hoje deputado federal Alexandre Ramagem. 

Lula não fez menção direta a Alessandro Moretti, mas disse que dentro da Abin “tinha um cidadão que mantinha relação com Ramagem" e que "se isso for verdade, não há clima para esse cidadão continuar".

“A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin [Luiz Fernando Corrêa] foi meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança, e por isso chamei, já que eu não conhecia ninguém da Abin. E esse companheiro montou a equipe dele. Dentro da equipe dele tinha um cidadão, que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-presidente da Abin do governo passado. Inclusive, relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Se isso for verdade e está sendo provado não há clima para esse cidadão continuar na polícia. Mas antes de você fazer simplesmente a condenação, é importante investigar corretamente”, afirmou Lula quando questionado se sentia “seguro” com a Abin atual.

Segundo a PF, a atual direção da Abin tentou interferir nas investigações sobre o uso do software espião FirstMile durante o governo Jair Bolsonaro (PL). No documento encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF, a PF afirma que "a direção atual da Abin realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação", o que designa "conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin", causando prejuízos à investigação e também à própria Abin.

Os investigadores ainda citaram que Alessandro Moretti teria se reunido com os investigados para dizer que a apuração da PF em curso teria "fundo político e iria passar". Moretti foi o número dois de Anderson Torres quando secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

A demissão dele tem sido dada como certa entre auxiliares do governo. Já a situação do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, ficou também delicada em função de detalhes do relatório usado pelo ministro do Supremo para embasar o despacho em que autorizou a operação da PF. Por meio de nota, a Abin reportou à imprensa que é “a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos”.

No entanto, na entrevista à rádio CBN Recife, Lula voltou a defender a presunção de inocência e provas para o caso de Moretti e mostrou confiança em relação a Corrêa.

Lula rebate Bolsonaro sobre operações da PF

Na segunda-feira (29), a PF deflagrou uma operação mirando o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). O filho de Bolsonaro foi o alvo direto de mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, na investigação sobre o esquema de espionagem ilegal na Abin.

Jair Bolsonaro (PL) chegou a dizer à CNN Brasil se tratava de perseguição política e que existia uma tentativa de associá-lo a "Abin paralela". Lula negou nesta terça-feira que as investigações da PF sejam  retaliação da gestão petista contra o ex-presidente.

"Ele (Bolsonaro) falou uma grande asneira", rebateu o petista. Em seguida, destacou que as instituições são independentes e que não há interferência do Palácio do Planalto sobre a PF. 

"O governo brasileiro não manda na Polícia Federal, muito menos o governo brasileiro manda na Justiça. Ou seja, você tem um processo de investigação, você tem decisão de um ministro da Suprema Corte que mandou fazer busca e apreensão sobre suspeita de utilização com má-fé pela Abin, dos quais o delegado que era responsável era ligado à família Bolsonaro. Eu não vejo nenhum problema anormal se é uma decisão judicial".

Lula defendeu que todos os investigados têm direito à presunção de inocência e que "quem não deve, não teme". Dessa, forma voltou a responder diretamente à crítica de Bolsonaro sobre perseguição. "Acho que cidadão que está acusando, ele foi presidente da República, ele lidou com a Polícia Federal, ele tentou mandar na Polícia Federal, ele trocava superintendente a bel-prazer sem nenhum respeito ao que pensava o próprio diretor da Polícia Federal, o ministro da Justiça", declarou Lula. 

 

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