Assim como seus apoiadores nas redes sociais, Bolsonaro voltou a insistir na tese que houve um uma diminuição nas tensões entre a Rússia e a Ucrânia graças à sua visita a Vladimir Putin, o presidente russo, na quarta-feira (16).

“Trocamos informações sobre a possibilidade ou não de uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Passei para ele o meu sentimento que tive nesta viagem, até mesmo pela coincidência de ainda estarmos em voo para Moscou e, parte das tropas russas serem desmobilizadas na fronteira. Entendo, sendo coincidência ou não, como um gesto de que a guerra realmente não interessa a ninguém", afirmou Bolsonaro ao lado do primeiro-ministro Victor Orbán, líder político de extrema-direita.

Os dois fizeram uma declaração conjunta à imprensa após se encontrarem naquele que é o último compromisso de Bolsonaro no leste europeu antes de voltar ao Brasil, após viagem internacional iniciada terça-feira (15).

Além de não haver qualquer prova que a presença dele influenciou em qualquer decisão de Putin, agências internacionais independentes, governos de outros países e organismos internacionais já afirmaram não haver certeza que a Rússia diminuiu o número de militares nas fronteiras com a Hungria.

Na declaração à imprensa, Bolsonaro chamou Orbán de irmão e destacou as afinidades políticas e ideológicas entre os dois.

“Prezado Orbán, é uma satisfação muito grande estar na Hungria. Considero o seu país o nosso pequeno grande irmão. Pequeno se levarmos em conta as nossas diferenças nas respectivas extensões territoriais, e grande pelos valores que nós representamos, que podem ser resumidos em quatro palavras: Deus, pátria, família e liberdade. Comungamos também da defesa da família com muita ênfase. Uma família bem estruturada faz com que a sua respectiva sociedade seja sadia. Não devemos perder esse foco”, disse Bolsonaro.

No fim de sua fala, Bolsonaro repetiu e enfatizou essa posição.

“Prezado Orbán, trato como irmão, dada a afinidade que temos na defesa dos nossos povos”, completou o presidente brasileiro

Assim como fez em sua declaração à imprensa em Moscou, ao lado de Vladimir Putin, o presidente brasileiro voltou a falar que o Brasil “preserva a Amazônia” e atacou, sem citar nomes, dirigentes europeus que acusam o país do contrário.

Orbán disse que espera voltar ao Brasil para festejar nova vitória de Bolsonaro

Em sua fala, Órban fez a defesa da pauta de extrema-direita, com críticas à política migratória da União Europeia -- a Hungria faz parte do Viségrad, grupo europeu que se opõe às realocações dos refugiados que chegam ao continente --, a defesa da "família tradicional" e contra minorias e a fala de que os cristãos "são os mais perseguidos do mundo" por conta da sua fé.

Orbán também ressaltou que esteve na posse de Jair Bolsonaro em 2019 e disse pretender voltar ao Brasil em janeiro de 2023 para presenciar a recondução dele à Presidência da República. 

“Eu estive na posse do presidente Jair Bolsonaro. Foi uma festa linda. Eu espero visitá-lo em breve para a mesma ocasião.” 

Em 2019, além de comparecer à posse de Bolsonaro, Orbán recebeu visita oficial do deputado federal Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP), filho "03" do presidente, quando o parlamentar chefiava a Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Assim como fez Putin, Orbán prestou solidariedade às vítimas da tempestade em Petrópolis, que contabiliza mais de 100 mortos até o momento. O primeiro-ministro destacou que Bolsonaro foi o primeiro presidente do Brasil a visitar a Hungria.

Orbán também comentou a crise entre Ucrânia e Rússia. Segundo ele, a Hungria tenta evitar uma guerra na região.

Orbán aprovou leis contra gays, mulheres, imigrantes e a liberdade de imprensa

Assim como Bolsonaro, o premiê húngaro está em uma complicada campanha eleitoral. As eleições Hungria ocorrem em abril e uma coalizão da oposição tentar retirá-lo do poder após 12 anos.

Viktor Orbán está no poder desde 2010. Ele foi eleito com o apoio do partido Fidesz, que obteve a maioria dos assentos do Parlamento húngaro nesse período.

Durante seus mandatos, eles conseguiram aprovar leis para aumentar sua representação legislativ e aprovar leis que seguem seu ideário de conservador de direita.

Em 2018, pouco depois de ter sido reeleito, ele tirou o financiamento dos programas de ensino superior que estudavam gêneros.

Recentemente, restringiu o acesso de menores de 18 a livros ou outros materiais que “promovem” homossexualidade.

Orbán também criou um órgão de regulação da imprensa e ele passou a cassar concessões por causa de coberturas.

Homenagem, acordos e encontro com presidente

Após dois dias em Moscou, onde se encontrou com Vladimir Putin na quarta-feira (16), Bolsonaro desembarcou nesta quinta-feira em Budapeste. 

Bolsonaro cumpriu o primeiro compromisso da agenda em território húngaro, em uma cerimônia aos heróis daquele país. Bolsonaro depositou uma coroa de flores na Lápide Memorial. 

Antes do encontro com Orbán, houve uma reunião privada com o presidente do país, János Áder.

Já o encontro entre Bolsonaro e Orbán contou com a presença de ministros de governo dos dois países. Do Brasil, participam Walter Braga Netto, da Defesa; Carlos França, das Relações Exteriores; Luiz Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência; e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Internacional (GSI).

Os integrantes do governo brasileiro assinaram acordos de cooperação entre os países.

Bolsonaro volta ao Brasil nesta quinta-feira

Bolsonaro embarcará para o Brasil ainda nesta quinta. Ele afirmou na quarta que estará no Rio na sexta-feira (18), para sobrevoar a região de Petrópolis, atingida por chuvas torrenciais na noite da terça (15), que causaram enxurradas, deslizamentos de terra e a morte de mais de uma centena de pessoas.

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