O protagonismo da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, no governo, tem incomodado o círculo de aliados do presidente Lula. O posicionamento da primeira-dama em diferentes temas, sejam eles sobre política ou não, trazem engajamento às suas redes sociais com frequência. Além disso, a presença costumaz de Janja em agendas internacionais do presidente Lula, têm causado incômodo em auxiliares do governo.

Aos 57 anos de idade, Janja, que é socióloga de formação, já disse em público que quer dar uma outra imagem à figura da primeira-dama. Ainda que não tenha um cargo oficial, ela tem estabelecido agendas regulares com ministros, apoiadores de Lula e possui um gabinete próprio no Palácio do Planalto, sede do poder Executivo, de onde despacham Lula e outros ministros palacianos.

Na tragédia de chuvas no Rio Grande do Sul, o próprio ministro Paulo Pimenta usou as redes sociais para dizer que Janja iria ao estado "anunciar" medidas. Na ocaisão, assessores tiveram que correr para explicar, apósa publicação de Pimenta, que a primeira-dama não estava liderando a comitiva no estado gaúcho. Ela, no entanto, viajou à região e acompanhou o vice-presidente, Geraldo Alckmin, juntamente com uma comitiva de ministros às cidades Gaúchas, que foram inundadas por enchentes.  

Influência na Esplanada 

A escolha de Margareth de Menezes para assumir o Ministério da Cultura teve influência de Janja, segundo apurou esta reportagem. A primeira-dama também fez campanha para a permanência de Wellington Dias no cargo de ministro do Desenvolvimento Social, pasta cobiçada pelo Centrão. À época, o ministro enfrentava resistência dentro do próprio governo. Aliados articulavam para Lula exonerá-lo. 

Na pasta da Igualdade Racial, Janja atuou para ajudar na melhora da imagem da ministra Anielle Franco após episódio em que uma assessora fez postagem discriminatória contra paulistas. Na ocaisão, a primeira-dama aconselhou Anielle a exonerar a funcionária.  

As eventuais rusgas e diferenças com Rui Costa, chefe da Casa Civil, já foram superadas. Janja pediu um mobiliário de primeira-linha para a residência oficial da Presidência da República. O objetivo era dar uma cara nova ao Palácio da Alvorada após saída de Jair Bolsonaro e Michelle. A Casa Civil, no caso, é quem controla esse tipo de gasto. Rui Costa era contra as aquisições. O custo dos imóveis de luxo vazou, caiu na mídia e gerou uma crise de imagem do casal,.

‘GLO é Golpe’  

No episódio do 8 de janeiro, quando uma ala do governo, junto com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, avaliava decretar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Janja foi uma das primeiras do entorno de Lula a se posicionar contra. Segunda ela, a medida que daria poderes máximos às Forças Armadas era "golpe". Com a GLO, militares teriam poder acima do presidente da República. Lula decretou, então, intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal.  

Primeira-dama pode concorrer às eleições? 

Enquanto paira eventual dúvida sobre as pretensões políticas de Janja, a legislação eleitoral não impede que ela concorra a um cargo político no próximo pleito.  

Para o advogado especializado em legislação eleitoral e mestre em Direito pela UFMG, Felipe Gallo, o clima de polarização ainda presente no país pode fomentar um novo debate sobre o tema, uma vez que não existe cargo para primeira-dama e, com isso, não teria o fator de incompatibilidade com a função pública. “A Constituição impede a candidatura na mesma circunscrição eleitoral. Isto é, impede-se de concorrer a mulher de um prefeito na disputa municipal, a de um governador na estadual e na deputado ou senado na federal”, disse ele. 

“Existe margem jurídica para a mulher do presidente se candidatar em um cargo eletivo que não seja da esfera federal. Uma prefeitura, por exemplo. Mas, pode existir um debate jurídico complexo sobre a matéria, pois existe o instituto da desincompatibilização para ocupantes de cargos públicos concorrerem aos pleitos. Não existe um cargo de primeira-dama, do qual ele teria que renunciar”, reiterou.  

A menos de um ano para as eleições municipais do ano que vem, Janja pode ser um forte cabo eleitoral para aliados. Na outra ponta, o PL já alçou Michelle Bolsonaro como porta-voz do partido e para puxar votos do eleitorado feminino.