Fila de jatinhos

Governadores usam aviões oficiais para irem à festa em fazenda dos donos da JBS

A festa em comemoração aos 90 anos dos pais de Joesley e Wesley Batista foi animada por Daniel, Bruno, Wesley Safadão e Henrique e Julian

Por Renato Alves
Publicado em 15 de dezembro de 2023 | 11:21
 
 
 
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Os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e do Mato Grosso, Mauro Mendes, ambos do União Brasil, usaram aviões oficiais dos seus  estados para irem à festa de 90 anos do fundador da JBS, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, na quarta-feira (13).

Organizada pelos filhos de Zé Mineiro, José Batista Júnior, Joesley e Wesley Batista, a festa aconteceu na Fazenda Santa Lúcia, em Aruanã, a 200 km de Goiânia, e contou com a presença de mais de mil convidados.

Zé Mineiro fundou a JBS, coração do que hoje é a J&F, a holding que controla o grupo da família, dona de marcas como Friboi e Seara, é o maior grupo privado não financeiro do Brasil, com receita anual de R$ 393 bilhões. 

As empresas da família e os irmãos Batistas se viram envolvidos em um escândalo de corrupção em 2016, sendo alvos da Operação Lava Jato, presos em 2017 e acabando fazendo um acordo de delação premiada.

Caiado foi à comemoração de Zé Mineiro – que construiu o império em Goiás, apesar da sua origem mineira – na aeronave operada pela Secretaria de Estado da Casa Militar. O avião é um Cessna 525, com capacidade para seis passageiros e um tripulante.

Agora tratado como amigo pelos donos da JBS, Caiado já se referiu a Wesley e Joesley Batista em entrevistas como “delinquentes, sem escrúpulos, que praticam todo tipo de corrupção” e afirmou que a JBS praticava "ilícitos e crimes”. 

“Essa empresa destruiu a economia do Centro-Oeste, usou o dinheiro do BNDES para fazer o monopólio do abate e das exportações de gado no país. Trouxe prejuízos incalculáveis para Goiás”, disse Caiado em uma CPI.

Em nota, o governo de Goiás afirmou que “o governador Ronaldo Caiado foi ao evento na condição de chefe do Executivo goiano, para prestigiar um empresário que construiu uma multinacional a partir de Goiás e que até hoje gera milhares de empregos no Estado”.

Mauro Mendes foi à festa em uma UTI aérea comprada a pandemia

Já Mauro Mendes foi à festa da JBS em uma UTI aérea que deveria transportar pacientes da rede pública estadual. O avião oficial foi comprado pelo governo do Mato Grosso em 2020, durante a pandemia da Covid-19. 

O avião Cheyenne IIXL com a matrícula PSGOV pertence à secretaria de Segurança Pública (Sesp) e decolou de Cuiabá (MT) com destino à Fazenda Santa Luzia às 18h04 de quarta-feira. O retorno ocorreu às 2h35 de quinta-feira (14). 

Também por meio de nota, Mendes alegou que foi convidado como “chefe do Executivo” do Mato Grosso para a festa e, por isso, usou o transporte oficial. 

No entanto, a festa da JBS não aparece na agenda oficial dos dois governadores, portanto, as aeronaves oficiais não deveriam, em tese, ser utilizadas. As informações sobre o uso delas são do site Metrópoles.

Além de Caiado e Mendes, ao menos outros dois governadores foram à festa:  Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal; e Ratinho Júnior, (PSD), do Paraná.

Governador do RJ desistiu por causa de congestionamento de jatinhos

O trânsito aéreo causado pela chegada das aeronaves de diferentes pontos do país na região da fazenda da JBS fez o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, desistir de participar da festa.  Alguns convidados enfrentaram fila aérea de até uma hora e meia para conseguir pousar com seu jatinho.

Segundo o colunista do Globo Lauro Jardim, Joesley e Wesley Batista fretaram seis Boeings para levar convidados até a Fazenda Santa Luzia, que tem pista de pouso asfaltada de 3 mil metros com iluminação para operação noturna por instrumento.

A festa foi animada pelos cantores Daniel, Bruno (da dupla Bruno e Marrone), Wesley Safadão e pela dupla Henrique e Juliano. A comemoração adentrou a madrugada de quinta-feira (14). Fotos e vídeos foram proibidos. Os organizadores também não divulgaram a lista de convidados.

Irmãos donos da JBS foram prsos e protagonizaram delações premiadas

Os irmãos Batista foram protagonistas em uma série de delações premiadas de executivos da J&F e da JBS que aconteceram entre 2017 e 2018. Também foram acusados de vários esquemas de corrupção para beneficiar o grupo empresarial.

Joesley gravou uma conversa com o então presidente Michel Temer (MDB) e, no áudio, o então mandatário pedia a manutenção de pagamentos,principalmente para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).

A situação provocou uma operação da Polícia Federal, pois o conteúdo da conversa foi vazado e terminou na série de delações de executivos do grupo, incluindo os próprios irmãos Batista e que envolvia políticos importantes.

Em 2017, os irmãos Batistas foram presos por uso de informação privilegiada para lucrar no mercado financeiro com a divulgação da gravação, que provocou um baque na bolsa de valores, no que ficou conhecido como Joesley Day. Recentemente, foram absolvidos da acusação pela Comissão de Valores Mobiliários. 

Já o ex-governador do MT Silval Barbosa, confessou, em delação premiada, que, em troca de incentivos fiscais, a JBS pagou propina aos integrantes de um grande esquema de corrupção no governo de Mato Grosso, desvendado durante a Operação Ararath.  

Barbosa afirmou que foram distribuídos R$ 12 milhões “em crédito de propina” pelo grupo JBS, em 2014, e para o pagamento desse “crédito” foi feito um acordo durante sua campanha. 

Já nas delações, os irmãos Batista disseram que pagaram R$ 25,5 em propina para o grupo de Silval Barbosa. Em contrapartida, a empresa deixou de pagar R$ 73,5 milhões em ICMS, valor resultante do cálculo de créditos que a JBS deixou de lançar em seu favor em razão do sistema anteriormente vigente de recolhimento por estimativa. 

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