Tensão Padilha x Lira

Lula defende Padilha: 'Só de teimosia, vai ficar muito tempo no ministério'

O presidente da República ainda afirmou que o cargo de ministro das Relações Institucionais é muito desafiador

Por Gabriela Oliva
Publicado em 12 de abril de 2024 | 18:56
 
 
 
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, em um discurso nesta sexta-feira (12), o ministro-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, após mais um momento de tensão com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). 

Durante o discurso na cerimônia de inauguração da nova sede da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Lula destacou a persistência de Padilha em seu cargo: "Só de teimosia o Padilha vai permanecer nesse ministério por muito tempo". O ministro estava presente no evento.

Lula descreveu a complexidade do cargo de ministro das Relações Institucionais ao longo do tempo: "O Padilha está em um cargo que parece ser o melhor do mundo nos primeiros 6 meses, e depois começa a ser um cargo muito difícil. Os primeiros seis meses são como um casamento, a gente ainda não sabe os defeitos, a gente ainda tá se descobrindo, promete coisas que não vai fazer, começa o momento que começa a cobrar".

Ele enfatizou a importância da capacidade de lidar com adversidades no Congresso Nacional: "Mas só de teimosia o Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério, porque não tem ninguém melhor preparado para lidar com adversidades no Congresso Nacional que o companheiro Padilha."

O presidente ressaltou a necessidade de diálogo e paciência para governar o país: "Se a gente não conversar e tiver paciência para aceitar as diferenças, a gente não consegue governar o país."

Lula expressou nostalgia em relação à época em que a política era entre PT e PSDB: "Que saudade que eu tenho quando a política era entre PT e PSDB. Como era democrático, como a gente era civilizado e a gente não sabia. Agora que a gente está descobrindo."

Tensão Lira x Padilha

Na quinta-feira (11), o presidente da Câmara dos Deputados chamou Alexandre Padilha de "desafeto pessoal" e "incompetente". Nesta sexta-feira (12), o ministro de Relações Institucionais afirmou que "não vai descer ao nível" para responder aos comentários de Lira.

Responsável pela articulação política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Padilha ainda provocou Arthur Lira, natural de Alagoas.

"Sinceramente, eu não vou descer a esse nível. Sou filho de uma alagoana arretada que sempre disse: 'meu filho, se um não quer, dois não brigam'. Eu aprendi a fazer política com o presidente Lula, política com civilidade", declarou o ministro ao chegar ao evento "Líderes em Energia", no Rio de Janeiro.

Lira vem criticando Padilha desde o ano passado, acusando-o de descumprir acordos. O político alagoano deixou de fazer articulação política diretamente com o ministro.

Na última quarta-feira (10), o presidente da Câmara aumentou o tom ao mostrar irritação com a interferência do Palácio do Planalto na votação da manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem Partido-RJ). Lira acusou Padilha de "plantar" a versão de que o resultado da votação significava um enfraquecimento dele à frente da Casa.

"Essa notícia foi vazada do governo e, basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, um incompetente", declarou Lira.

"Não existe partidarização, eu deixei bem claro que ontem a votação é de cunho individual, cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver", rebateu o político alagoano.

Padilha usa verso de Emicida para responder ataque de Lira

Ainda nesta sexta-feira (12), quando questionado mais de uma vez para comentar as declarações de Arthur Lira, Alexandre Padilha afirmou que a relação com o governo federal e o Congresso "foi um sucesso" em 2023.

"Quero repetir esse sucesso, não guardo nenhum tipo de rancor. A periferia de São Paulo produziu uma grande figura, o Emicida, que diz: 'Mano, o rancor é como um tumor: envenena a raiz, quando a plateia só quer ser feliz'. Sei que os deputados desejam ser felizes e manter os bons resultados para o país", declarou.

Lula sinaliza que Padilha fica no cargo 

Ainda na quinta-feira (11), minutos após a declaração de Lira, Alexandre Padilha compartilhou um vídeo na rede social X contendo elogios do presidente Lula ao seu trabalho à frente da pasta. "Ter ouvido isso ontem, publicamente, do maior líder político da história do Brasil é sempre uma honra para toda a equipe do Ministério das Relações Institucionais", afirmou.

O vídeo é um trecho de uma fala de Lula durante um evento do Minha Casa, Minha Vida na quarta-feira (10), no Palácio do Planalto.

Durante o evento, o petista mencionou que "Padilha possivelmente tem o cargo mais espinhoso do governo", pois lida diretamente com o Congresso Nacional e as negociações com os deputados.

Ele reconheceu também as pressões e cobranças dos parlamentares por entregas relacionadas ao que foi prometido e acordado. "O Padilha está batendo recordes, pois tem se mantido no cargo por bastante tempo devido às suas competências".

Na semana anterior, o petista já havia elogiado o auxiliar, referindo-se a ele como o "ministro que rói o osso", por ocupar o cargo considerado o mais difícil da Esplanada dos Ministérios.

Nos bastidores, as declarações de Lula foram interpretadas como um claro sinal de que o ministro permanece no cargo, apesar das pressões e críticas do presidente da Câmara dos Deputados, o que ficou evidente na quinta-feira (11).

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