O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se reunir com os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, para debater a crise Essequibo, território vizinho do Brasil que é disputado pelos dois países e rico em petróleo.
Os três estarão em São Vicente e Granadinas, onde acontecerá a 8ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na próxima sexta-feira (1º). Lula desembarca no país insular após passagem pela Guiana.
Lula deixa Brasília na quarta-feira (28) com destino à Georgetown, capital da Guiana, onde participa como convidado da 46ª Cúpula de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom), no dia seguinte.
Na agenda oficial de Lula está um encontro com o chefe de governo da Guiana, Irfaan Ali, na quinta-feira (29), em Georgetown. A crise de Essequibo será o principal tema da conversa, conforme o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil.
“Temos boas relações com a Venezuela, boas relações com a Guiana. O presidente Lula está indo porque foi convidado para se reaproximar da Caricom. Agora, ele estando lá, não vai perder a oportunidade de se reunir com o presidente Ali e apresentar uma agenda bilateral. Talvez ele felicite o presidente Ali por ter aceitado sentar-se com a Venezuela para tentar resolver a crise”, disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina do MRE, em entrevista na última sexta-feira (23) sobre a viagem presidencial.
Padovan enfatizou a neutralidade do governo na questão e a busca por uma solução negociada. “O Brasil não se manifesta a respeito do cerne da questão entre Guiana e Venezuela, porque não nos compete. O que nos compete é facilitar o diálogo, a nossa posição se baseia em defender que o problema e a solução são uma questão bilateral, de respeito aos tratados internacionais, que é base da nossa Constituição”, argumentou.
Em dezembro, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, assinaram declaração conjunta em que os dois países se comprometem a não usar a força um contra o outro na disputa pelo território.
O documento foi assinado durante reunião na ilha caribenha de São Vicente e Granadinas, mediada pelo primeiro-ministro Ralph Gonsalves. Lula deve se encontrar com Gonsalves, sexta-feira, no país insular, na cúpula da Celac.
Em janeiro, em Brasília, houve uma segunda rodada de diálogo sob mediação do governo brasileiro, por meio do chanceler Mauro Vieira, e dos governos de São Vicente e Granadinas – país que está na presidência temporária da Celac, e de Dominica, nação que preside temporariamente a Caricom. Desde a eclosão da crise, os três países têm atuado como principais interlocutores na busca de uma solução pacífica.
Maduro quer anexar Essequibo com uso da força
A crise começou no fim do ano passado, quando Maduro anunciou a incorporação de Essequibo, região disputada pelos dois países há mais de um século, que perfaz quase 75% do território da Guiana.
O líder do regime venezualeno fez um plebiscito em seu país para respaldar o seu plano e mandou explorar os recursos naturais na região, para a qual nomeou um governador militar.
O governo brasileiro chegou a reforçar a presença das tropas militares em Roraima, que faz fronteira com os dois países, e, desde então, vem defendendo a resolução da controvérsia entre as duas nações por meio de um diálogo mediado.
O Brasil é o único país que faz fronteira simultânea com Guiana e Venezuela, e um eventual conflito militar poderia ameaçar parte do território brasileiro em Roraima.
Sem o respaldo do Brasil e de outros países, Maduro não mandou tropas para Essequibo nem um governador. Tampouco alguma empresa de seu país passou a explorar as riquezas do vizinho.