Durante o evento realizado no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (11), e que marcou a implementação de um plano de ações destinado à população em situação de rua, o padre Júlio Lancellotti afirmou que é hora transformar radicalmente a "arquitetura hostil" dos espaços públicos com o uso de marretas.

“Vai depender de todos nós fazer essa lei valer. Marreta em toda arquitetura hostil, que toda arquitetura hostil seja retirada e nunca mais, seja implantada. (...) Elas não são anjos e nem demônios, são pessoas e devem ser enxergadas como pessoas”, disse durante solenidade na sede do governo federal, e ressaltando a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 

O religioso teve uma lei com o nome dele sancionada e regulamentada pelo governo federal nesta segunda-feira. Entre os exemplos de arquiteturas hostis, estão espetos pontiagudos instalados em fachadas comerciais, pavimentação irregular, pedras ásperas e divisórias em bancos de praças e pontos de ônibus. 

Padre Júlio criticou ainda a violência do Estado, sobretudo das guardas municipais, durante abordagens a  esse segmento mais carente da sociedade. Segundo disse, os agentes de segurança “rasgam e jogam na cara” da população de rua os documentos de identificação deles. Diante disso, o religioso cobrou a agilidade para emissão das cédulas de identificação para que os moradores de rua possam acessar o Cadastro Único (CadÚnico) e terem dignidade.

“Tem a violência da invisibilidade, e a violência daqueles que enxergam os moradores de rua como um risco, como um perigo, e os agridem. Temos sofrido muito nos últimos tempos porque nos punem por partilhar o pão com as mulheres e homens em situação de rua”, destacou. 

O evento contou com a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT); do vice-presidente Geraldo Alckmin; do ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida; e do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Esse último, inclusive, chegou a discursar e foi ovacionado com os gritos de “Xandão” pela plateia formada. 

Anúncio de investimento de quase R$ 1 bilhão

Na ocasião, foi anunciado o investimento de quase R$ 1 bilhão para fomentar iniciativas de assistência à população de rua, como geração de emprego, moradia, segurança pública, saúde, entre outros. O plano foi articulado pelo Ministério dos Direitos Humanos. Ao discursar, Lula cobrou resultados imediatos do titular da pasta: “Esse R$ 1 bilhão que nós colocamos, Silvio (Almeida), ele tem que aparecer”.

Na sequência, o petista afirmou que tem parcelas da sociedade que consideram “uma afronta” esse tipo de política assistencial. “Tem gente que acha que isso aqui é uma afronta, que nós estamos cuidando de pobre, que a gente deveria estar governando para os ricos”. 

Por fim, Lula se mostrou novamente preocupado com as eleições municipais do próximo ano. Ele voltou a convocar as pessoas para participarem de forma democrática das discussões políticas e das disputas eleitorais porque caso contrário, segundo ele, elas estão terceirizando medidas que nem sempre são contempladas por determinados atores políticos. 

“Ou a gente se dá conta da importância do processo democrático de uma cidade, de um país, ou a gente sempre vai estar colocando os nossos inimigos para fazer as coisas que a gente pensa que vai fazer, mas que eles nunca vão fazer, e todo mundo aqui já tem experiência", disse.

"Então, vai ter eleições no próximo ano, e é importante a gente saber se as pessoas que são candidatas estão preocupadas com vocês, estão preocupadas com os desempregados, se estão preocupadas com quem está morando em situação de risco, na beira de córrego, de encosta”, completou.