Os peritos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília, apontaram que o  indigenista Bruno Araújo Pereira, 41 anos, e o jornalista britânico Dom Phillips, 57, foram mortos a tiros, com munição de arma de caça. O brasileiro foi baleado três vezes, na cabeça e no tórax. Já o estrangeiro, uma vez, no peito.

As informações foram divulgadas no início da tarde deste sábado (18), por meio de nota da PF. 

Conforme o documento, o repórter morreu por "traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins [chumbinhos presentes em cartuchos de espingarda], ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (1 tiro)"

Já o indigenista sofreu "traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)".

Peritos confirmam que corpos são de Dom e Bruno

A corporação também informou neste sábado que o outro corpo encontrado na quarta-feira (15), na região do Vale do Javari, é de Bruno Pereira. Na sexta, a PF já tinha confirmado que o outro corpo era de Dom Phillips.

Comparações entre exames odontológicos entregues pela família do indigenista e a arcada dentária recolhida pelos policiais federais confirmaram a identidade de Bruno. 

O mesmo procedimento foi usado na identificação do repórter. No caso dele, houve ainda a análise de impressões digitais e características físicas, método conhecido como "antropologia forense".

"Não existem indicativos da presença de outros indivíduos em meio ao material que passa por exames", diz o comunicado da Polícia Federal.

Polícia Civil prende terceiro suspeito de envolvimento no crime

Ainda neste sábado, a Polícia Civil do Amazonas prendeu mais um suspeito de ter participado do assassinato dos dois. Trata-se de Jefferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da Dinha.

Jefferson estava foragido e se entregou na Delegacia de Polícia de Atalaia do Norte (AM), o município mais próximo do local do crime. Ele será interrogado e encaminhado para audiência de custódia.

Dois homens já estavam detidos pela morte de Bruno e Dom: Amarildo Oliveira, conhecido como Pelado, e o irmão dele, Oseney Oliveira, o Dos Santos.

Pelado prestou depoimento na terça (14) e confessou ter participado da morte do indigenista e do jornalista, de acordo com a Polícia Federal. No dia seguinte, ele levou os investigadores ao local do crime. Dois corpos foram localizados na região.

A polícia ainda apura a motivação do crime. Investigadores que atuam no caso têm afirmado reservadamente que as evidências e provas até o momento reforçam a hipótese de que as atividades ilegais de pesca e a caça na região são o pano de fundo do caso.

"As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito", afirmou a PF em nota.

Indígenas rechaçam tese da PF sobre motivação do crime

Esse comunicado da Polícia Federal indignou a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que afirma que a corporação ignorou as denúncias feitas por eles. De licença não remunerada da Funai, Bruno trabalhava como fomentador da vigilância indígena na instituição.

"O requinte de crueldade utilizado na prática do crime evidencia que Pereira e Phillips estavam no caminho de uma poderosa organização criminosa que tentou a todo custo ocultar seus rastros durante a investigação", afirmou a entidade indígena.

"A PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021 [...] Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à terra indígena Vale do Javari, do qual Pelado e Dos Santos fazem parte", completou.

A Univaja alega ainda que o grupo criminoso é formado por caçadores e pescadores profissionais e foi descrito em documentos enviados ao Ministério Público Federal, à própria PF e à Funai.

Barco usado por Bruno ainda não foi encontrado

Policiais federais também buscam formas de encontrar o barco que era usado por Bruno e Dom. A embarcação foi afundada com sacos de terra, segundo divulgado pela PF.

Em nota nesta quinta, a PF afirmou que não ainda foi encontrada a embarcação, "apesar de exaustivas buscas" realizadas na área indicada pelo pescador preso. (Com Folhapress e Estadão Conteúdo)

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