O Palácio do Planalto tem pressa em baixar o preço dos combustíveis de forma significativa, mas o processo não está ocorrendo tão rapidamente quanto desejado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e alguns ministros, incluindo o de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG).
A pressão tem recaído nos ombros do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que para preservar o valor de mercado da petroleira brasileira, tem demonstrado que não vai distribuir “canetadas” ao gosto do Executivo federal.
Ainda assim, a contragosto de governistas, Prates vai ser preservado no comando da estatal e, pelo menos até agora, tem sido carta fora do baralho da nova reforma ministerial que Lula vai fazer em janeiro do ano que vem.
As disputas e visões políticas e de mercado tem colocado Silveira e Prates num ringue. As brigas entre os dois já extrapolaram as quatro paredes dos gabinetes da Esplanada do Ministérios, com ambos se criticando e alfinetando abertamente.
Lula teve que intervir e solicitou que os dois se entendessem durante uma reunião no Palácio do Planalto em 21 de novembro. Acompanhado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, o petista demonstrou preocupação com qualquer desentendimento entre eles, pois isso poderia indicar uma desestabilização no governo.
A avaliação de pessoas próximas ao presidente é a de que, além das tensões pessoais, mudanças abruptas nos preços dos combustíveis ou mesmo a substituição do presidente da Petrobras impactariam os investidores e teriam um efeito direto no valor de mercado da empresa.
Durante a reunião, fontes indicam que Lula deixou claro que não pretendia afastar o ex-senador do comando da petroleira. Diante disso, a ordem dada aos dois foi para que interrompessem seus desentendimentos públicos e buscassem estabilidade nas pautas.
Sem mudanças, Lula deu declarações públicas
No entanto, as tensões não se dissiparam rapidamente. A declaração recente do presidente Lula em relação a Prates trouxe à tona, pela primeira vez publicamente, a insatisfação do petista com ele, um sentimento que anteriormente era discutido apenas de maneira reservada por auxiliares mais próximos do chefe do Executivo Federal.
Lula chegou a chamar o presidente da Petrobras de “mente fértil” ao se mostrar surpreso sobre a elaboração de um estudo para instalação de uma subsidiária da Petrobras nos Emirados Árabes. Sem o conhecimento do petista, o presidente da petrolífera fez o anúncio, na semana passada, no país do Oriente Médio durante a COP 28.
Questionado por jornalistas no evento sobre o tema, Lula ironizou, como sempre faz quando é pego de surpresa com alguma declaração de seus auxiliares do alto escalão. “Não fui informado que vamos criar uma Petrobras aqui”, disse.
“A cabeça dele [Prates] é muito fértil, ele pensa em velocidade de Fórmula 1 e eu funciono em velocidade de Volkswagen”. De lá para cá os dois não tocaram mais no assunto.
Fogo-amigo para todo lado
A queda de braço entre Alexandre Silveira e Jean Paul Prates apresenta uma guerra de narrativa nos bastidores e um arsenal de fogo-amigo. Por um lado, o ministro mineiro poderia ganhar fama como o ministro de Lula que baixou o preço da gasolina e do diesel.
Algo que, segundo interlocutores, melhoraria substancialmente a imagem do governo para a população. E o feito daria credenciais para futuras pretensões político-eleitorais de Silveira. Mas, não é apenas isso que alimenta a lenha nesta fogueira.
No início do governo, eles tiveram atritos quanto à reinjeção de gás natural nas bacias de petróleo no mar. Silveira defende a exploração do gás, e interlocutores ouvidos pela reportagem contam que Jean Paul é favorável, mas que “segura um pouco” a possibilidade.
Isso porque, o presidente da Petrobras acatou a visão dos especialistas e reconheceu que o Brasil ainda não tem a infraestrutura necessária para explorar o gás e que faltam gasodutos no país para dar vazão a essa matriz energética. O cita, por exemplo, a falta de infraestrutura no Nordeste.
Ainda que existam brigas, fontes relataram de maneira reservada que os dois não discordam de tudo e que existe uma pauta comum entre o ministro de Minas e Energia e o presidente da Petrobras: a transição energética.
A pauta verde é uma das vitrines do Brasil para o mundo e tem sido vendida por Lula nas agendas internacionais. Nessa linha, Jean Paul Prates ambiciona transformar a Petrobras muito mais do que uma petroleira, mas sim em uma empresa de energia, o que envolveria matriz eólica e tecnologia para captura de carbono.
Prates tenta driblar desconfiança
Enquanto muito ainda está para acontecer, no dia a dia, Lula ainda segue incomodado com a política de preços da estatal. E Prates não conseguiu acalmar totalmente a ânsia dos governistas.
Para driblar a desconfiança, ele mostrou ao petista que a Petrobras se recuperou recentemente de uma política de preços agressiva. A estatal perdeu valor de mercado em função das gestões anteriores que interferiram sobre a política de preços da empresa.
O ápice das ditas ‘canetadas’ ocorreram nos governos de Dilma Rousseff (2011-2016) e Jair Bolsonaro (2019-2022). Foi nesses anos que importadores de combustíveis fecharam as operações no Brasil para não quebrarem, uma vez que não havia a paridade dos preços internacionais (PPI).
A commodity é comercializada no mercado internacional com base no dólar. O Brasil não é autossuficiente em produção de combustíveis, como gasolina e diesel, porque a capacidade de refino da Petrobras, que detém o monopólio no país, não dá conta da demanda do mercado interno.